RCC Tocantins
10/08/2007 - 00h00m

Silêncio: a arte perdida de escutar!

 
Sua Mãe, porém, conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração (Lc. 1,51).

Silêncio para escutar a voz do Silêncio. No mundo moderno parece que o silêncio ficou “mudo”, não se escuta mais o sussurrar do silêncio. O silêncio tornou-se meramente absoleto. Ficou refém da poluição sonora, da invenção tecnológica. O progresso regrediu o silêncio. O silêncio tem voz suave e penetrante que faz brotar uma força interior que, até mesmo, a própria pessoa fica extasiada ao tomar consciência do tamanho e extraordinário vigor que emana de seu interior. Uma pessoa amante do silêncio é uma pessoa serena e contagiante. É cativante e ao mesmo tempo é cativada. Além da suavidade de sua voz, o silêncio, tem uma sensibilidade auditiva fenomenal. Ausculta as entranhas de qualquer realidade. Capta o “X’ da questão.

O silêncio aguça os ouvidos. De sua “boca” saem palavras certas nas horas certas à pessoa certa. O silêncio é uma preciosidade; contudo, não pode ser confundido com ausência de ruídos, como alguém que se recusa a falar, mas no seu interior está fervilhando. Isso não é silêncio. O silêncio fomenta a sabedoria como diz um antigo provérbio: “O Silêncio é a linguagem do sábio”.

O silêncio é fruto da sintonia do mundo exterior com o interior. Este é um dos grandes dramas da vida de oração. Porque a oração é fruto do silêncio; é a voz do silêncio. O silêncio é a pré-condição para uma vida de oração centrada na Pessoa de Jesus Cristo e ao mesmo tempo perpassa toda a vida de oração. É na brisa suave que Deus se deixa encontrar. Nosso tempo é o tempo do trovão, do terremoto, do ativismo, do barulho, enquanto Deus se acha na brisa suave. É mister recuperar, para o cristão, como para toda a humanidade, Arte Perdida de Escutar. Este silêncio é o melhor remédio que existe e existirá para combater o estresse da vida.

A pessoa de silêncio vive em sintonia com Deus e é vivificada pelo Espírito do Senhor. O Espírito do senhor não habita um coração atribulado. A agitação quebra a sintonia da vida (Mt. 6,25). Um dos meios que se tem para escutar seu próprio “Eu” e o transcender é o silêncio. Muitas pessoas têm medo do silêncio. O silêncio apavora. Porque, o silêncio, incomoda, questiona, exige tomada de decisão mediante aos desafios da vida. Principalmente quem vive na superficialidade da vida, este tem pavor do silêncio, prefere viver na aparência. Uma grande maioria das pessoas prefere a agitação do mundo para não se encontrar consigo mesma.

Ah! Se o mundo descobrisse o valor do silêncio. Ele seria bem melhor. Os grandes mestres de espiritualidade e conseqüentemente de relações humanas são pessoas que sabem cultivar o silêncio. O silêncio humaniza. Jesus de Nazaré foi um Homem do silêncio e de silêncio. Do silencio porque já entra no mundo na esfera da humanidade sem nenhum alarde. De silêncio porque toda a sua força transformadora tinha sua fonte, como diz os Evangelhos, em suas noites de oração. No julgamento, Pilatos, pergunta de Jesus o que é a verdade. Ele silenciou. Silêncio que provocou a ira do governador. Na verdade, Jesus, respondeu. Acontece que Pilatos não escutou porque desconhecia a linguagem do silêncio. Jesus respondeu com o silêncio e Pilatos não soube decifrar tal linguagem.
Essa é a dificuldade de nossas liturgias. São barulhentas. Há muita poluição sonora nas liturgias. Por falta de estrutura e bom som ou por falta de sintonia do som e da equipe de liturgia e de celebração. Na hora do silêncio alguém acha de conduzir o silêncio falando; ou então alguém na assembléia arrasta o pé, afasta cadeira ou banco, menino começa a chorar enfim. É necessário recuperar o silêncio para melhor celebrar e orar. Sem silêncio não há experiência de Deus profunda e transformadora. Falta conversão porque falta silêncio para se encontrar com Aquele que leva à conversão e ao compromisso com o seu Projeto.

Padre Vanilson
Coordenador Estadual do Ministério para Sacertodes – RCC Tocantins
cristosacerdote@rccto.org.br

LINK CURTO: https://rccto.org.br/r/kH

© 2012-2024. RCC-TO - Todos os direitos reservados.