RCC Tocantins
27/04/2007 - 16h30m

Sabatina da Folha com o bispo Dom Odilo

 
Durante duas horas, d. Odilo respondeu a perguntas da platéia e de quatro entrevistadores: a secretária de Redação da Folha Suzana Singer, o editor de Cotidiano, Rogério Gentile, e os repórteres João Batista Natali e Rafael Cariello.

O evento, aberto ao público, foi realizado no Teatro Folha (Shopping Pátio Higienópolis, av. Higienópolis, 618, 2º piso) e acompanhado também ao vivo pela internet (www.uol.com.br).

D. Odilo, secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), tomará posse como arcebispo da cidade no domingo. Ele sucederá a d. Cláudio Hummes, que ocupou o posto de 1998 a 2006, quando foi nomeado pelo papa prefeito da Congregação para o Clero, no Vaticano.

Dom Odilo defende fidelidade como ferramenta para combater a Aids

O bispo d. Odilo Scherer disse em sabatina da Folha que a fidelidade dos casais e a não-promiscuidade são as melhores formas de combater a difusão da Aids pelo mundo. A afirmação é uma resposta à pergunta do jornalista da Folha João Batista Natali sobre o uso de preservativo para combater a Aids, principalmente em países mais pobres.

"A igreja não está interessada na difusão da Aids. Pelo contrário", afirmou d. Odilo.

"Primeiramente, fica muito claro que a igreja não está interessada que se difunda a Aids. A igreja quer que se previna de todas a formas lícitas possíveis a difusão do vírus."

O bispo ressaltou que a igreja defende as pesquisas científicas para encontrar o medicamento adequado contra a Aids e a prevenção adequada, com a produção e distribuição de remédios.

"O que o Brasil fez certamente foi muito bom. O governo brasileiro facilitou o acesso aos medicamentos. Mas a igreja também propõe coisas em outro sentido"

Ele destacou a necessidade de formação e educação das pessoas, para que tenham comportamentos éticos e morais e responsáveis.

"Certamente [a igreja] tem fundamento ao dizer que a melhor forma de prevenir contra a Aids é a fidelidade ao parceiro, o correto comportamento no que tange às relações sexuais e a não-promiscuidade. Certamente ninguém há de negar que são formas eficazes [de combate à doença."

D. Odilo disse ainda que não se pode culpar a Igreja Católica pela disseminação da Aids em países mais pobres, especialmente africanos.

"Na África, a presença da Igreja Católica é muito pequena diante da população. E certamente as pessoas não usam preservativos não por causa da Igreja, mas por falta de instrução, educação adequada."

Dom Odilo admite que há "fuga silenciosa" de fiéis das igrejas

Dom Odilo Scherer admitiu hoje que há uma "fuga silenciosa" de fiéis da Igreja Católica. No entanto, ele afirmou que esse movimento de esvaziamento atinge todas as igrejas, inclusive as neopentecostais.

"A fuga silenciosa é muito clara, e não atinge só os católicos. É generalizada. Todas as igrejas estão perdendo fiéis, inclusive as protestantes e as neopentecostais", afirmou d. Odilo em resposta ao questionamento feito pelo editor de Cotidiano da Folha, Rogério Gentile.

Segundo d. Odilo, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) começou a estudar o fenômenos para tentar compreender a diminuição dos fiéis da igreja. Para ele, esse movimento tem relação com as transformações culturais.

Na avaliação de d. Odilo, um dos motivos que pode explicar a saída de católicos da igreja é a mudança na situação demográfica. Segundo ele, nos últimos 40 anos, a população deixou o campo e migrou para as cidades, onde vivem no anonimato.

"No interior, a igreja tinha presença mais forte. Hoje a igreja não tem na cidade a mesma presença que tinha no interior. Além disso, antes todos se diziam católicos, mesmo que fosse só batizado", afirmou.

D. Odilo afirmou ainda que a globalização atinge as religiões a partir do momento em que há uma "oferta mercadológica" de religiões.

Dom Odilo critica invasões "indiscriminadas" do MST

Dom Odilo Scherer disse que não apóia as invasões "indiscriminadas" de terra, muitas delas promovidas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).

Para o bispo, as invasões foram, no passado, um instrumento de pressão para que o governo fizesse a reforma agrária. Mas ressaltou que não apóia as invasões de propriedades particulares legalmente adquiridas. "Não sou a favor da usurpação do patrimônio adquirido legalmente", afirmou.

Segundo ele, a corrupção no Brasil existe desde o tempo do Império. "A corrupção existe no Brasil desde a época do Império", respondeu ele ao ser questionado sobre as denúncias de corrupção contra os governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva.

Dom Odilo defendeu a participação da sociedade no controle do exercício do poder para combater a corrupção.

Governo

Dom Odilo evitou demonstrar sua preferência pessoal entre os governos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Questionado durante a sabatina sobre as diferenças entre os dois governantes, ele disse que FHC herdou um Estado mais "pesado" e que precisou tomar atitudes para estabilizar a economia.

Para ele, Lula está levando a política econômica adotada por Fernando Henrique "com sucesso".

"A economia está no controle, por isso Lula está sendo beneficiado com um Estado mais leve. Mas não ouso fazer escolha ou dizer quem foi melhor", afirmou.

D. Odilo minimiza cobranças de diálogo feitas ao papa

Dom Odilo Scherer minimizou hoje as cobranças de ampliação do diálogo de parte da sociedade ao papa Bento 16. Ele também disse que são normais as contestações de parte da sociedade em relação à Igreja Católica.

Houve algum papa que não foi contestado?", respondeu ele durante sabatina da Folha, realizada nesta quinta em São Paulo.

O bispo acrescentou que a Igreja Católica tem propostas de humanidade, do que julga ser importante para o ser humano, como respeito à vida e à honestidade pública.

"No momento presente, não tem homem melhor para fazer esse diálogo do que o papa Bento 16."

O bispo afirmou ainda que a igreja teve um papel muito importante na globalização.

A preocupação com a formação intelectual do episcopado é uma questão presente dentro da Igreja Católica, segundo d. Odilo. "A sociedade, o mundo, estão cada vez mais complexos. Aqueles que vão à frente devem estar preparados", afirmou.

O bispo afirmou, porém, que procurar intelectuais dentro da igreja para assumir determinados postos "é secundário".

"De fato, o papa [Bento 16] está atento para colocar pessoas consideradas certas no momento e no lugar certo."

D. Odilo diz que é "sofrido" perder fiéis para igrejas pentecostais

Dom Odilo Scherer disse hoje que nenhum padre fica contente quando perde seus fiéis para igrejas pentecostais. Ele participou de sabatina da Folha nesta quinta-feira, em São Paulo.

Não estou condenando grupos religiosos ou pessoas que vão para outros grupos. Mas é sofrido quando os membros vão embora", afirmou.

Apesar de não condenar a opção dos fiéis, d. Odilo ressaltou que tem muito a discutir quanto ao método que a Igreja Universal usa para atrair novos membros. "Antes de tudo, respeito a opção de cada um. Não vou compartilhar alguns métodos", disse ele em referência à teologia da prosperidade adotada pela Universal.

D. Odilo também destacou que a Igreja Católica tem 2.000 anos de história, o que a coloca em desvantagem por carregar "um patrimônio de pecado". Porém, para o bispo, essa situação ocorre porque a Igreja Católica está no mundo.

"Vivemos no contraditório da busca de santidade sendo ainda pecadores. Mas eu creio no Deus da história. E como não é a primeira vez que a Igreja Católica se encontra em dificuldade. Mas vamos acertar o passo", afirmou.

Católico de qualidade

O bispo d. Odilo disse que a Igreja Católica busca católicos de qualidade. Mas afirmou que a igreja não abandona aqueles não são de boa qualidade.

D. Odilo critica realização de pesquisas com células-tronco embrionárias

O bispo d. Odilo Scherer demonstrou hoje posição contrária às pesquisas com células-tronco retiradas de embriões humanos. "A Igreja Católica parte do pressuposto de que o embrião é um ser humano", disse.

Ele ressaltou que a ciência confirma que o embrião é um ser humano, embora não tenha área cerebral e sistema nervoso.

Para o bispo, portanto, não se deve fazer a um ser humano que ainda não nasceu o que não se faz a um adulto. "Isso vale também para a questão do aborto. Um indefeso, um inocente."

"O ser humano deve ser respeitado sempre naquilo que ele tem de mais básico, que é o seu direito de existir."

"E esse direito de existir não deve ser limitado por critérios externos. Se vai viver só poucos dias, se não vai ser útil para a sociedade, não vai ser um indivíduo produtivo (...). O ser humano não é manipulável, não é disponível para o uso de terceiros, para estar submetido à vontade e decisão de terceiros. Esse é um princípio basilar."

Fonte: catolicanet.com

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