RCC Tocantins
04/07/2007 - 15h16m

Presidente da RCC Brasil fala sobre os 40 anos do movimento

 
Quais foram as principais mudanças que a Renovação Carismática Católica (RCC) causou na Igreja? Esta e outras questões, como perseguição aos carismáticos e a acusação de serem distanciados das questões sociais, são abordadas nesta entrevista com o presidente do Conselho Nacional do movimento no Brasil, Marcos Volcan.

Por telefone, o líder dos carismáticos faz um resumo das mudanças ocorridas internamente na trajetória dos 40 anos do movimento que já reunia cerca de 120 milhões de católicos no ano 2000.

Marcos Volcan também dá detalhes da festa do jubileu de esmeralda do movimento, que deve reunir fiéis de cerca de 20 países na sede da Comunidade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP), no final deste mês.

A RCC surgiu em 1967 num retiro promovido por estudantes de uma universidade norte-americana e se espalhou rapidamente pelo mundo. No dia 8 de julho de 1993, com a acolhida e apreço do Papa João Paulo II, os estatutos do movimento foram aprovados pela Santa Sé.

cancaonova.com: Quais foram as principais mudanças que a Renovação Carismática viveu nesses 40 anos de história?

Marcos Volcan: Esta resposta pode ser bem ampla, mas eu vou me deter em dois aspectos: um de caráter quantitativo e outro de caráter qualitativo. Entre os anos 70 e 80, a Renovação chegou a todas as regiões do Brasil e, praticamente, a todos os continentes e países. Aquela pequena fagulha, que começou num ambiente universitário, espalhou-se por todo o mundo de forma não planejada.

Já a partir dos anos 80 e início dos anos 90, a Renovação cresceu em termos quantitativos, ou seja, ela alcançou quase 100 milhões de pessoas em 240 países. Esses são os dados que nós temos das pesquisas mais recentes. Surgiram novas comunidades com um crescimento muito grande de vocações sacerdotais.

Nos anos 90 e no início deste novo milênio, a Renovação passa por um período de revisão e cresce diante de suas organizações com um novo vigor na formação de seus membros. Nesse período, surgem também muitas associações de leigos, e como já disse, muitas outras comunidades, chamadas de "Novas Comunidades".

cancaonova.com: E quais foram as principais mudanças que ela causou na Igreja?

Marcos Volcan: A RCC surge na Igreja num período pós-Concílio Vaticano II, ou seja, em meados da década de 60, vindo contribuir com uma ampla renovação que o próprio Concílio desejou. A Renovação chamou e ainda chama a atenção para a vida interior – de uma busca de espiritualidade mais profunda e de redescoberta do Espírito Santo – vivo e ativo na Igreja. Ela nos lembra que a Igreja, em sua essência, é carismática porque nasce em Pentecostes e que os carismas são muito necessários para toda a Igreja.

Eu destacaria até mesmo um elemento fundamental na vida da Renovação que é o grupo de oração, pois é ele que incorporou a vida da Igreja. Hoje são mais de 140 mil grupos espalhados em capelas, igrejas, hospitais, universidades, repartições públicas. Da RCC surgiram também inúmeras iniciativas de apostolado leigo, de vida religiosa, associações e comunidades, e todas elas têm carismas diversos. Veja, por exemplo, a própria Canção Nova, ela é uma comunidade que surge dentro deste ambiente de Renovação Carismática. Enfim, são milhares de vidas transformadas por Deus.

cancaonova.com: Como foram superadas as primeiras resistências a esse redespertar da espiritualidade carismática?

Marcos Volcan: Nem sempre foi fácil, mas as resistências foram mais bem superadas quando nós estivemos dispostos a dialogar, mas sem abrir mão de nossa identidade. A RCC, – é importante que se diga –, foi-nos dada pela Igreja, ela nasce da Igreja, e sem perder a identidade do nosso movimento, nós estamos sendo fiéis a ela. Sempre existe, na comunhão eclesial, uma obediência aos nossos pastores. Por essa razão, quando tivemos mais diálogo e obediência, foi mais fácil superar as resistências e dificuldades.

cancaonova.com: O senhor já sofreu algum tipo de resistência pelo fato de ser carismático?

Marcos Volcan: Diretamente não, mas eu conheço e vi situações em que pessoas e grupos foram perseguidos. Isso existe há muitos anos na Igreja, seja no mundo ou até em setores eclesiais. Temos de respeitar o nosso próximo, mas é preciso que também sejamos respeitados e que a nossa identidade seja vivida plenamente.

cancaonova.com: Há pouco tempo atrás, muitos acusaram a RCC de não dar devida atenção às questões sociais. Essas críticas diminuíram? Como o movimento reagiu?

Marcos Volcan: Sim, nós podemos dizer que as críticas diminuíram bastante. Penso que durante um momento nós revisamos o nosso agir e onde havia falhas, procuramos corrigi-las. Mas é preciso dizer também que a RCC sempre teve atenção com a promoção humana e a ação política. O grupo de oração é um espaço onde sempre se fez a promoção humana.

Há uma consciência crescente no meio da Renovação sobre os problemas sociais, pois cada vez mais nossos integrantes têm consciência disso. Os problemas sociais devem ser enfrentados por meio de uma boa formação, preparando o leigo católico sobre temas que envolvem fé e política. Alguns membros da Renovação são vocacionados e têm se candidatado a cargos públicos. Eu vejo com bastante esperança o que ela está fazendo, porque está, nestes tempos, dando uma nova contribuição para as mudanças da nossa sociedade. Veja, por exemplo, a questão do aborto nos dias atuais, nós temos respondido a isso com um grupo pela vida, mobilizando agentes em todo Brasil, levantando assinaturas. Até na participação, estamos nos somando àqueles que integram os grupos de oração, especialmente nas universidades.

cancaonova.com: Levar as pessoas ao batismo no Espírito Santo é o principal objetivo da RCC. O que vem a ser esta experiência?

Marcos Volcan: Essa é uma experiência profunda de Deus que mexe com todo o nosso ser: sentimentos, emoções, mas, acima de tudo, promovendo uma nova consciência da criação divina e de que o Espírito Santo habita em nós. Isso nos dá uma nova dignidade, um novo gosto por tudo o que diz respeito a Deus e à Igreja. Eu costumo dizer que aquele que faz a experiência com Deus, buscando ter uma nova vida no Espírito, descobre o valor da oração, da Sagrada Escritura, e de dar testemunho autêntico da sua fé. E é claro que a Renovação Carismática não tem exclusividade sobre essa experiência, mas ela vive muito o carisma de redespertar nas pessoas o desejo de realizar uma experiência profunda com Deus.

cancaonova.com: Nessa caminhada de 40 anos é comum, como em qualquer movimento de Igreja ou da sociedade, haver pessoas que desanimam. Qual a sua palavra àqueles que começaram a participar da RCC, mas hoje se vêem menos fervorosos?

Marcos Volcan: De forma muito direta, eu diria para as pessoas: busquem planos para a sua vida, Deus tem um plano para cada um de nós. Quando nós entramos para o serviço de Deus, é preciso ter esperança e paciência, o que é uma exigência da vida cristã. Portanto, sejamos firmes e corajosos, pois Aquele que nos chama, – que é o nosso Deus –, há de levar a bom termo aquilo que Ele começou. Então, observe onde você parou e retome sua caminhada, não olhe para trás; o Evangelho diz que o operário não deve olhar para trás quando põe a mão no arado (cf. Lc 9,62). Por isso, não abra mão daquilo que o Senhor Deus colocou em seu coração. A Palavra do Apocalipse diz que cada um de nós tem que guardar a sua coroa, porque, ao vencedor, Deus fará uma coluna no Seu templo (Cf. Ap 3, 11). Seja firme, seja corajoso, olhe para frente e retome de onde você parou.

cancaonova.com: Alguns representantes de comunidades católicas carismáticas participaram da Conferência de Aparecida. Como a RCC acompanhou este encontro eclesial e qual é a expectativa para a aplicação do documento do encontro a ser aprovado pelo Papa?

Marcos Volcan: Nós acompanhamos de forma especial toda a cobertura que foi dada pela mídia católica e também nos inserimos nela com irmãos e irmãs que participam do Ministério de Comunicação Social, por meio do nosso portal, da nossa revista, enfim, dos programas que temos na mídia.

Muitos dos nossos jovens, especialmente durante a visita do Santo Padre, estiveram presentes e puderam testemunhar com o Sumo Pontífice o quanto a Igreja se manifesta através de seus pastores. E isso é uma oportunidade de renovação. Então, nós aguardamos e queremos receber as orientações conclusivas deste documento com grande vontade de contribuir com a evangelização do continente.

cancaonova.com: Em que a Renovação Carismática pode contribuir para a proposta da missão continental deste documento?

Marcos Volcan: Eu destacaria duas coisas: primeiro, a Renovação tem uma vocação missionária e há um ponto em que estamos sendo chamados no continente ao anuncio e à missão. Segundo, o testemunho autêntico. O nosso Papa, quando chegou aqui ao Brasil, ao falar aos bispos, foi muito claro sobre a necessidade da Igreja dar um testemunho autêntico, e com isso, profético, de amor aos pobres, de valorização da vida humana, de não permitir que a cultura da morte possa firmar raízes no nosso continente.

Eu me lembro também que foi muito forte e presente, não só dessa palavra de nosso Papa, mas também da de João Paulo II que nos acompanhou durante muito tempo, em que ele dizia assim: "No nosso tempo, ávido de esperança, fazei com que o Espírito Santo seja conhecido e amado. Assim, ajudareis a fazei que tome forma aquela 'cultura de Pentecostes', a única que pode fecundar a civilização do amor e da convivência entre os homens. Com insistência fervorosa, não vos canseis de invocar: 'Vem, ó Espírito Santo! Vem! Vem!".

É assim que a Renovação pode contribuir em resposta a tudo o que aconteceu nesses dias maravilhosos de Pentecostes que foram a visita do Papa e a realização da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, aqui em nossas terras.

cancaonova.com: Como estão os preparativos para a festa dos 40 anos da RCC na Canção Nova?

Marcos Volcan: O tema do encontro se inspira na Palavra do Ato dos Apóstolos que diz: "Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força, e sereis minhas testemunhas!" (At 1,8). Nós estamos na reta final para este encontro que quer ser um momento de despertar na vida da Renovação, de um novo tempo. Na realidade, nós já estamos vivendo um momento de grande quantidade de pessoas inscritas, e este é um momento especial também porque estamos sendo acolhidos pela Canção Nova.

O XXVI Congresso Nacional da Renovação Carismática vai reunir, praticamente, toda a América Latina; são mais de 20 países latino-americanos. Também virão para cá nossos irmãos da América do Norte e da Europa, entre eles está a presidente do Ministério Internacional da Renovação, todo o Conselho Latino-americano e Nacional. Também temos confirmadas as presenças de lideranças como o nosso assistente espiritual, Dom Alberto Taveira Corrêa, e o próprio fundador da Canção Nova, padre Jonas Abib, que será um de nossos pregadores, entre outros. É um encontro que vai trazer novas comunidades para dar um testemunho muito bonito na vida de toda a Renovação. É uma grande expectativa e tenho certeza de que promoveremos um momento muito especial na vida de toda a Igreja do Brasil.

Fonte: CançãoNova.com

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