RCC Tocantins
24/05/2007 - 11h33m

Porta-voz vaticano: comunicação pode dar dimensão positiva à globalização

 
ROMA (ZENIT.org).- Pode-se construir um mundo melhor e dar uma dimensão positiva à globalização através da comunicação, se esta opta pelos valores que lhe dão sentido, adverte o porta-voz vaticano.

O Pe. Federico Lombardi SJ, diretor da Sala de Informação da Santa Sé, abordou o tema na intervenção de encerramento, na terça-feira, em Roma, da sessão de estudo organizada pelo 60º aniversário da federação «Pax Romana» (www.paxromana.org).

«A Santa Sé: uma face de outra globalização -- um rosto que deve anunciar e comunicar» foi o tema que deu motivo ao também diretor da «Rádio Vaticano» para lançar desafios fundamentais para o comunicador, em particular ao cristão, no contexto da globalização, cujo processo tem como parte-chave as comunicações sociais.

Existe «um fluxo intenso e rapidíssimo de comunicações, e informações, um fluxo que se acelera continuamente pelo desenvolvimento das novas tecnologias da comunicação», e «o que acontece em um ponto do planeta pode conhecer-se em poucos momentos em todo o mundo», recordou o Pe. Lombardi.

Igualmente, «o fluxo das comunicações influi na mentalidade, atitude e comportamento das pessoas» -- assinalou -- , como é o caso dos «países em vias de desenvolvimento», nos quais «se pode ver pela televisão e se pode receber notícias pela Internet» com «modos de vida, de consumo e de pensamento, de mudanças das idéias morais e culturais dos demais países do mundo».

«Portanto, nascem imediatamente movimentos de mudança da mentalidade, da cultura, das expectativas, nasce um impulso a novos modelos de vida, a comportamentos morais diferentes, à migração para outros países.»

Deste modo, sublinhou, «a comunicação social influi na realidade da vida no mundo sobre o processo concreto da globalização», afirmou o diretor da Sala de Informação da Santa Sé.

Sombras que podem e devem ser iluminadas

Muitos aspectos desse processo da comunicação social «são ambíguos e negativos», e o Pe. Lombardi assinalou a importância de ser conscientes deles.

«Para chamar a atenção no relativo ao imenso fluxo da comunicação, existe um impulso cada vez mais forte à sensação, ao ‘scoop’, à busca do impacto», «a ser os primeiros em chegar com a informação, ainda com risco de dar uma informação não precisa ou não verificada», exemplificou.

Igualmente, registra-se na comunicação o impulso «a insistir sobre os conflitos, sobre a dialética, sobre as oposições, tanto nas relações pessoais e familiares, como nas relações sociais e políticas, e entre as nações»; tudo isso -- acrescentou -- somado a «uma fragmentação, uma ruptura do tecido cultural das referências morais às que os povos estão acostumados».

Há grandes desequilíbrios também no mundo da informação, «tanto sobre a possibilidade de receber informação, como a possibilidade de dar informação e de falar desde o ponto de vista dos pobres, e não só dos ricos e poderosos», lamentou o sacerdote.

Ante este panorama, pode surgir certo pessimismo sobre a globalização nas comunicações sociais; contudo, a Igreja «tem uma atitude fundamentalmente positiva e otimista na globalização, desde o ponto de vista da comunicação», e busca «ajudar a ver as possibilidades positivas e insistir nestas para usá-las bem», afirmou.

A comunicação -- na perspectiva da Igreja -- pode e deve servir para que a pessoa seja «mais livre e responsável graças ao conhecimento do mundo no qual vive e de sua situação» -- insistiu o porta-voz vaticano; é uma possibilidade de crescimento da pessoa, da comunidade, da sociedade e da própria Igreja.

E o próprio crescimento da comunicação «permite mais participação na vida comunitária, permite que cresça a democracia, que cresça o sentido de interdependência entre os povos, que se abram horizontes de solidariedade», destacou.

Pontos-chave para a comunicação construtiva

Mas como fazer uma comunicação para o mundo de hoje, a fim de dar à globalização uma dimensão positiva? O Pe. Lombardi respondeu a esta pergunta sublinhando alguns valores fundamentais que devem caracterizar esta atividade.

Antes de tudo, assinala a necessidade da «verdade». «Quem trabalha na comunicação social sabe que não é em absoluto óbvio dizer sempre a verdade e buscar sempre a verdade» -- apontou. «A busca da verdade é uma tarefa contínua e difícil, não só nas grandes comunicações dos meios, mas também em nossas comunicações pessoais.»

Por outro lado, é necessário mostrar «uma visão da realidade que conserve a dimensão espiritual e religiosa» -- acrescentou --, porque a realidade não existe só no «aspecto material», ainda que se insista em falar «só, ou principalmente, dos aspectos materiais da vida» e não se reconheça «a importância dos fatos morais ou espirituais na vida».

«Outro ponto que senti e aprendi como fundamental trabalhando com a Santa Sé na comunicação -- reconheceu -- é o respeito da variedade e da riqueza das diversas culturas contra os modelos culturais que o mundo inteiro propõe e contra o colonialismo cultural que submete os menores e continua difundindo os modelos dos países mais ricos e poderosos.»

Trata-se -- considera -- de «defender a variedade, a identidade dos diversos povos e nações e dar a entender que esta é uma riqueza que deve ser compartilhada com todos» «para poder ser uma família na qual os próprios valores são compartilhados».

E nisso João Paulo II foi um «grande mestre»: quando elevou a sessenta o número de felicitações nos diferentes idiomas, no Natal, «demonstrava compreender isso e querer expressar eficazmente ainda que fosse só com duas palavras; e o mundo o entendia», assinalou o Pe. Lombardi.

Desta forma, «devemos comunicar pela justiça», prosseguiu, aludindo, por exemplo, às «guerras esquecidas».

E também é necessário «comunicar pela paz», comunicar «não para dividir, mas para unir», «sempre para favorecer a compreensão, as razões do diálogo e da unidade», propôs o porta-voz vaticano.

«Outro tema de nossa comunicação é o da caridade e da esperança», advertiu; «vivemos em um mundo em que as notícias negativas são inumeráveis», mas «há imensamente mais coisas boas e importantes a nosso redor do que percebemos e pensamos à primeira vista.»

E «uma comunicação cristã -- apontou o Pe. Lombardi -- deve insistir em dar as notícias boas que ajudem a valorizar o desejo de bem que existe no profundo de cada um de nós, ainda que esteja desiludido e cansado».

Recordou a morte de João Paulo II como o «fato mediático [nestes últimos tempos] mais importantes», e este «foi um fato belo, positivo, e grande parte da humanidade entendeu o valor do testemunho cristão e o viveu como um convite à dignidade, à esperança e à unidade».

«Creio que através de uma comunicação feita com estes valores» «podemos contribuir para a construção de um mundo melhor e dar à globalização uma dimensão positiva», concluiu.

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