RCC Tocantins
12/05/2008 - 00h00m

O fruto da caridade

 

Através dos tempos a doutrina de Cristo vem se destacando pela sua sublimidade e aptidão em satisfazer os anseios humanos. A sabedoria e a coerência contida nos Evangelhos fascinam a inteligência do ser racional. Aí a chave para um posicionamento adequado ante os magnos mistérios que desafiam o espírito do homem através dos séculos. O Verbo de Deus, porém, resumiu todo seu discurso neste texto, fonte de salvação, perfeição pessoal e paz social: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda tua alma, e de todo teu espírito. Este é o máximo e primeiro mandamento. E o segundo é semelhante a este: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt 22,37-40). Santo Agostinho, referindo-se a estas palavras do Redentor conclui: “Por conseguinte, se te falta tempo para estudar página por página das Escrituras, e ler todos os volumes nos quais estão contidos a palavra divina e nem podes entrar nos mistérios das Sagradas Letras, pratica a caridade que compreende tudo... porque se tens caridade sabes já um princípio que em si contém aquilo que, quiçá, não entendes”. Vivenciado este amor, colhe-se o fruto da caridade (Gl 5, 22 ss na Vulgata). Esta dispõe para todo o bem, realizado em função da dileção, que tudo torna fácil e amável, pois ela é doce e saudável vínculo das almas. Vive-se o que São Paulo mostrou como realidade sublime: “O amor de Deus se encontra largamente difundido nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Ora, quem se submerge nesta ordem amorosa só pode irradiar em seu derredor calor, luz, otimismo. Este deleite interior que supera todo o entendimento é o segredo da ação benemerente dos que convivem com Deus que é amor. Tanto isto é verdade que o Apóstolo das Gentes afirmava aos Coríntios: “O amor de Cristo nos constrange” (2 Cor 5,14). Asseverou também que “a ciência incha, mas a caridade edifica. Se alguém se vangloria de saber alguma coisa, este ainda não conheceu de que modo se deve saber. Mas se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele” (1 Cor 8,1-3). Eis por que proclama em seguida: “a caridade nunca há de acabar... Agora, pois, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança, a caridade; porém a maior delas é a caridade (1 Cor 13,8 e 13). Santo Agostinho aliás assevera que “a fé é uma jóia de valor inestimável, mas nada serve sem a caridade”. Cumpre, entretanto, se desenvolva sempre esta árvore, conforme o mesmo Paulo aconselhava aos Filipenses: “E o que lhes peço é que a vossa caridade cresça mais e mais em conhecimento e em todo o discernimento, para que possais distinguir o melhor, para que sejais sinceros e irrepreensíveis para o dia de Cristo, cheios de fruto da justiça por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus” (1 Fl 1,9-11).  São Paulo cinqüenta e seis vezes em suas cartas faz o elogio da caridade e São João em dezenove passagens revela a preciosidade desta dádiva celeste que metamorfoseia o existir e dá um sentido admirável a todas as ações. A psicologia religiosa do cristão fica, desta forma, carregada de uma experiência vivencial repleta de energia. O Espírito cria então, de fato, “aquele coração novo” de que falam, com uma linguagem severa e precisa, Jeremias e Ezequiel. A caridade conduz à comunhão com a divindade e o próximo, conforme o pensamento de Cristo: “Que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles”(João 17,26). Antes havia dito  “Nisto todos vos reconhecerão como meus discípulos: no amor que tiverdes uns para com os outros” (João 13,35). Daí resulta a purificação, a renovação interna, a nova criatura, o filho, herdeiro de Deus. Donde o célebre dito agostiniano: “Ama e fazes o que quizeres”. Estas considerações revelam onde está aquele dinamismo íntimo que conduz e guia sempre milhares de eleitos ao cimo beatífico da plena realização de si mesmo. Estes se esmeram em amar zelosamente o próximo, certos da veracidade dos ensinamentos do Mestre que São João assim compendiou: “Se alguém disser: Eu amo a Deus, e odiar seu irmão, é um mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão a quem vê, como pode amar a Deus a quem não vê? E nós temos de Deus este mandamento: “Que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão” (1 João 4,20-21). Eis por que Santo Agostinho declara: “Se pressupões que entendestes os Livros Sagrados e não procuras edificar mediante o exercício da dupla caridade de Deus e do próximo, debalde te glórias, pois não os compreendestes”. Aqueles que procuram  os páramos onde há um modo de ser mais elevado, experimentem cultivar a virtude da caridade e chegarão fatalmente àquela maturidade espiritual que a Sabedoria Eterna permite.

Fonte:José Geraldo Vidigal de Carvalho

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