RCC Tocantins
31/05/2007 - 00h00m

O Dom do Entendimento

 
Uma visão penetrante da ordem sobrenatural é necessária para que as verdades reveladas sejam entendidas organicamente. Ficar na periferia é sempre cômodo, mas é sintoma de debilidade, indolência.

Ir ao fundo daquilo que se conhece é próprio dos espíritos atilados, argutos. Por isto o Dom do Entendimento é indispensável. Muitas vezes não se tem uma melhor compreensão do mundo espiritual exatamente por faltar este instrumental divino que faz caminhar até o âmago das mensagens da Sabedoria Eterna. Davi deixa claro porque pedia a Deus o entendimento: “Instrui-me - para que eu observe a tua lei e a guarde de todo coração... Instrui-me para aprender os teus mandamentos” (Sl 118, 34.73) . Ele sabia que a percepção e o conhecimento maior dos preceitos divinos está na razão direta da capacidade intelectiva do crente. O salmista acrescenta: “Daí-me inteligência e eu viverei” (Sl 118,144), porque, sendo eterna a justiça das prescrições de Deus, da inteligência delas resulta vida perene. Uma das condições para se obter esta força do Espírito, para ler dentro do que Ele diz, é a reflexão. São Paulo determina a Timóteo “Reflete no que te digo: porque o Senhor te dará a inteligência em todas as coisas” (2 Tm 2,7). Um dia Jesus recriminou os Apóstolos por não atinarem com perspicácia no que queria dizer e os argüiu: “Também vós estais sem inteligência?” (Mt 15,16) apenas depois de pentecostes é que os discípulos entrariam plenamente no discurso de Cristo.

É o Dom da Inteligência que possibilita entender os sinais sacramentais que simbolizam realidades tão sublimes. É ele que rasga o véu da História e faz ver o significado dos acontecimentos. Permite ainda se caminhe além das aparências. Facilita se chegue lá no íntimo do próprio coração para se detectar o bem e o mal que existe em cada um. Ao seu clarão a riqueza das máximas bíblicas se fazem mais perceptíveis. Há cristãos que negam o que está no Evangelho e em outras partes das Escrituras precisamente por carecerem deste Dom.

O Redentor certa vez asseverou: “Quem pode compreender, compreenda” (Mt 19,12). Isto só é dado àqueles que possuem o entendimento e gozam de uma intuição especial para decodificar o que o Verbo de Deus proclamou. Exemplo típico é o que nos mostra o diálogo de Cristo com Nicodemos (Jo 3, 1-16). O Filho de Deus falava sobre o renascimento espiritual e o doutor saiu com esta: “Como pode um homem nascer sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no ventre da mãe e renascer?” Cristo pacientemente explica: “Em verdade, em verdade te digo que quem não renascer da água e do Espírito santo, não pode entrar no reino de Deus”, e acrescenta outras explicações. Nicodemos ainda não entende e diz: “Como se pode fazer isto?” Jesus o recrimina então: “Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas?” Faltava entendimento a Nicodemos. Como divino pedagogo o Espírito Santo, por este Dom, revela que também no reino de Deus o importante não é saber muitas coisas, mas muito em profundidade. Cumpre se implore o entendimento, pois o Eclesiástico declara a respeito do sábio: “Porque se o Soberano Senhor assim o quiser, enchê- lo-á do espírito da inteligência” (Ecl 39,8).

O que falta ao mundo de hoje, neste início de milênio é se ater ao mistério do Infinito. Tanto se fala em releitura das Sagradas Escrituras. Importante seria a releitura autêntica da Bíblia e da vida, isto é, não através de novas formas espúrias, mas descendo lá no interior da verdade revelada.
Cumpre apreender o valor da própria existência e das riquezas imensas que estão ao derredor de cada um.

Con. Vidigal
Professor no Seminário de Mariana - MG

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