RCC Tocantins
02/05/2007 - 18h10m

Igreja reconhece mudança climática, mas rejeita «catastrofismos»

 
CIDADE DO VATICANO- Em 27 de abril passado, no encerramento do seminário internacional sobre «Mudança climática e desenvolvimento», o cardeal Renato R. Martino expressou sua satisfação pelo vivo e intenso debate desenvolvido, e ainda admitindo a realidade da mudança climática, criticou certas «formas de idolatria da natureza que perdem de vista o homem».

«A natureza é para o homem e o homem é para Deus», sublinhou o presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz ao apresentar as conclusões deste encontro que reuniu no Vaticano 80 estudiosos e especialistas de vinte países dos cinco continentes.

«Também na consideração dos problemas relativos à mudança climática -- explicou o purpurado -- terá que recorrer à Doutrina Social da Igreja», que «não avaliza nem a absolutização da natureza, nem sua redução a mero instrumento».

Segundo o cardeal Martino, «a natureza não é algo absoluto, mas uma riqueza depositada nas mãos responsáveis e prudentes do homem» e isso significa também que «o homem tem uma indiscutida superioridade sobre a criação e, em virtude de ser pessoa dotada de uma alma, não pode ser equiparada aos demais seres vivos, nem muito menos considerado elemento de perturbação do equilíbrio ecológico naturalista».

Pois bem, neste contexto, «o homem não tem um direito absoluto sobre ela, ainda que sim um mandato de conservação e desenvolvimento em uma lógica de destino universal dos bens da terra, que é um dos princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja, princípio que épreciso compaginar sobretudo com a opção preferencial pelos pobres e pelo desenvolvimento dos países pobres».

Na consideração dos problemas relativos à mudança climática, o presidente do dicastério vaticano revelou que «a Doutrina Social da Igreja deve enfrentar muitas formas de idolatria da natureza atuais que perdem de vista o homem».

«Semelhantes ecologismos -- precisou o purpurado -- surgem com freqüência no debate sobre os problemas demográficos e sobre a relação entre população, meio ambiente e desenvolvimento.»

O cardeal Martino relatou que, na Conferência internacional do Cairo sobre População e Desenvolvimento em 1994, da qual fez parte como chefe de delegação, «a Santa Sé teve de opor-se, junto a muitos países do terceiro mundo, à idéia segundo a qual o aumento de população nas próximas décadas levaria ao colapso dos equilíbrios naturais do planeta e impediria seu desenvolvimento».

«Estas teses foram já impugnadas e, felizmente, estão em regressão», afirmou o presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz. «Ao mesmo tempo -- acrescentou --, os mesmos propunham esta visão, sustentavam como meio para impedir o suposto desastre ambiental, instrumentos nada naturais, como o recurso ao aborto e à esterilização em massa nos países pobres com alta natalidade.»

«A Igreja propõe uma visão realista -- sustentou o cardeal Martino. Tem confiança no homem e em sua capacidade sempre nova de buscar soluções aos problemas que a história lhe apresenta. Capacidade que lhe permite opor-se com freqüência às recorrentes, infaustas e improváveis previsões catastróficas.»

Na parte final das conclusões, o purpurado recordou que «segundo a concepção de ecologia humana desenvolvida pelo Papa João Paulo II, a ecologia não é só uma emergência natural, mas uma emergência antropológica, na qual tem um papel decisivo a relação do homem consigo mesmo e sobretudo com Deus».

«O erro antropológico é, portanto, um erro teológico», sublinhou o cardeal Martino; e acrescentou: «quando o homem quer se colocar no lugar de Deus, perde de vista também a si mesmo e sua responsabilidade de governo da natureza».

Fonte: ZENIT

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