RCC Tocantins
20/07/2007 - 16h59m

EUA 'deportaram 1,8 mil brasileiros por crimes menores'

 
Cerca de 1,8 mil brasileiros foram deportados dos Estados Unidos por terem cometido "crimes menores", pelos quais podem ter pagado um preço exagerado, denunciou a organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch.
A estatística é uma das conclusões que sustentam a crítica da organização a uma legislação que começou a vigorar em 1997, tornando automática a expulsão de estrangeiros que cometeram delitos no país.

No total, estima-se que cerca de 434 mil pessoas deportadas nos últimos dez anos foram expulsas dos Estados Unidos por ofensas que não são consideradas graves.

Segundo a Human Rights Watch, a lei é "cruel" e fere os direitos humanos: destrói famílias ao separar imigrantes legais que não têm cidadania americana de parentes que são americanos.

Em um relatório divulgado nesta semana, a ONG exemplifica o excessivo rigor das autoridades dos EUA com casos como o de um homem (de nacionalidade não-identificada) que teve de se separar de suas três crianças por roubar um frasco de colírio no valor de dez dólares.

"As leis não são apenas cruéis em sua rigidez, elas não fazem o menor sentido", disse a pesquisadora sênior do programa para os Estados Unidos da Human Rights Watch e autora do relatório, Alison Parker.

"Como você explica para uma criança que o pai dela foi mandado para milhares de quilômetros de distância e não poderá jamais retornar para casa simplesmente porque falsificou um cheque?"

Exagero

O relatório vem com um ano de atraso, disse a ONG, pela demora das autoridades americanas em prover os dados para a investigação.


Deportações por crime 1997-2005
1. México – 572 mil
2. Rep. Dominicana – 19,5 mil
3. El Salvador – 18,5 mil
4. Honduras – 14,7 mil
5. Colômbia – 12,9 mil
6. Jamaica – 12,7 mil
7. Guatemala – 11,7 mil
8. Canadá – 4,7 mil
9. Haiti – 3,2 mil
10. Brasil – 2,8 mil
Fonte: Imigração americana

Entre 1997 e 2005, os Estados Unidos deportaram mais de 672 mil imigrantes condenados por crimes. Mas a Human Rights Watch acusa a agência de imigração americana de tornar públicos apenas os casos de imigrantes deportados por crimes violentos.

Entretanto, 64,6% dos deportados no ano de 2005 foram expulsos do país por crimes considerados "menores".

Assim, cerca de 434 mil pessoas deportadas nos últimos dez anos podem ter sido submetidas a penalidades exageradamente rigorosas, disse a ONG.

Pior: as estatísticas sugerem que 1,6 milhão de pessoas - um terço delas cidadãos americanos por haver nascido ou estarem radicados no país - tiveram sua família destruída por conta da legislação.

Mãos atadas

As críticas são feitas no momento em que o país discute uma nova lei para regulamentar a situação de seus imigrantes irregulares.

Mas a lei de 1996 não foi incluída nas discussões do Congresso.

Até então, imigrantes que cometeram crime tinham direito a ser ouvidos por um juiz, que aprovaria ou rejeitaria a deportação à luz dos laços familiares e da gravidade das ofensas.

Com a mudança, o número de estrangeiros deportados pulou de 37,7 mil em 1996 para 51,8 mil no ano seguinte, chegando a superar as 90 mil deportações em 2004 e 2005.

As leis não são apenas cruéis em sua rigidez, elas não fazem o menor sentido. Como você explica para uma criança que o pai dela foi mandado para milhares de quilômetros de distância e não poderá jamais retornar para casa simplesmente porque falsificou um cheque?


Alison Parker, porta-voz da Human Rights Watch

Por delitos graves e não-graves, pouco mais de 2,8 mil brasileiros foram expulsos dos EUA entre 1997 e 2005, fazendo do país o décimo na lista dos que mais tiveram cidadãos deportados no período.

O México lidera o ranking de longe: 517 mil mexicanos foram deportados por crimes entre 1997 e 2005.

Alice Parker disse que "a maioria dos membros da União Européia e de outras importantes democracias costumam levar em consideração as relações familiares e outras ligações com o país de imigração antes de tomar uma decisão final sobre a deportação".

"Mas os juízes de imigração dos Estados Unidos estão de mãos atadas. Não há nada que possam fazer para proteger famílias ou para reconhecer as várias contribuições que não-cidadãos fizeram para suas comunidades ou para a nação."


Fonte: BBC Brasil


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