RCC Tocantins
24/04/2007 - 14h39m

Carta do Papa à chanceler alemã perante a próxima reunião do G8

 
CIDADE DO VATICANO - Apresentamos a seguir a carta, publicada nesta segunda-feira pela Santa Sé, dirigida por Bento XVI à chanceler da República Federal Alemã, Angela Merkel, ao assumir a presidência da União Européia e do G8, na qual lhe pede manter como prioridade a luta contra a pobreza, em particular na África.


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A sua excelência Angela Merkel
Chanceler da República Federal Alemã

Em 17 de julho de 2006, por ocasião da conclusão da Reunião de São Petersburgo, sua excelência anunciou que o grupo constituído pelos países mais industrializados do mundo junto à Rússia (G8), sob sua presidência, manteria na ordem do dia o tema da pobreza no mundo. Também, em 18 de outubro, o governo da República Federal Alemã comunicou que a ajuda à África será um tema preponderante por ocasião da Reunião de Heiligendamm.

Escrevo-lhe, portanto, para expressar-lhe o agradecimento da Igreja Católica, assim como meu apreço pessoal por estes anúncios.

Alegra-me o fato de que o tema «pobreza» está agora na ordem do dia dos países do G8 com uma referência explícita à África. Este tema, de fato, merece a máxima atenção e prioridade para benefício dos Estados pobres, assim como dos ricos. O fato de que a presidência alemã do G8 coincida com a da União Européia oferece uma oportunidade única para enfrentar este tema. Confio em que Alemanha assumirá de maneira positiva o papel de guia que exige este conjunto de questões, que é de importância mundial e que afeta todos.

Por ocasião de nosso encontro de 28 de agosto passado, sua excelência me assegurou que a Alemanha compartilha a preocupação da Santa Sé pela incapacidade dos países ricos de oferecer aos países mais pobres, em particular aos africanos, adequadas condições financeiras e comerciais que tornem possível a promoção de um desenvolvimento duradouro.

A Santa Sé sublinhou repetidamente que os governos dos países mais pobres têm, por sua parte, a responsabilidade do bom governo e da eliminação da pobreza, mas que nisso é irrenunciável uma ativa colaboração por parte de todos os sócios internacionais. Não se trata de uma tarefa extraordinária ou de concessões que poderiam ser postergadas por causa de importantes interesses nacionais. Dá-se mais um grave e incondicional dever moral, baseado na pertença comum à família humana, assim como na comum dignidade e destino dos países pobres e ricos, que no processo de globalização se desenvolvem de uma maneira cada vez mais intimamente ligada.

Para os países pobres, é necessário criar e garantir, de maneira confiável e duradoura, condições comerciais favoráveis, que incluam sobretudo um acesso amplo e sem reservas aos mercados.

É necessário tomar também medidas a favor de um rápido cancelamento, completo e incondicional, da dívida externa dos países pobres altamente endividados («heavily indebted poor countries» -- HIPC) e dos países menos desenvolvidos («least developed countries») -- LDC). Desta forma, hão de tomar-se medidas para que estes países não acabem de novo em uma situação de dívida insustentável.

Os países industrializados também têm de ser conscientes dos compromissos que assumiram no âmbito das ajudas ao desenvolvimento, e cumpri-los plenamente.

Depois, são necessários importantes investimentos no campo da pesquisa e do desenvolvimento de remédios para o tratamento da AIDS, da tuberculose, da malária e de outras doenças tropicais. Os países industrializados têm de enfrentar a urgente tarefa científica de criar finalmente uma vacina contra a malária. Desta forma, é necessário pôr à disposição tecnologias médicas e farmacêuticas, assim como conhecimentos derivados da experiência no campo da saúde, sem pretender, em troca, exigências jurídicas ou econômicas.

Por último, a comunidade internacional tem de seguir trabalhando por uma redução significativa do comércio de armas, legal ou ilegal, do tráfico ilegal de matérias-primas preciosas e da fuga de capitais dos países pobres, e tem de comprometer-se na eliminação tanto de práticas de lavagem de dinheiro como da corrupção dos funcionários nos países pobres.

Ainda que estes desafios devam ser enfrentados por todos os estados membros da comunidade internacional, o G8 e a União Européia deveriam desempenhar um papel-guia neste sentido.

Membros de diferentes religiões e culturas de todo o mundo estão certos de que alcançar o objetivo da eliminação da pobreza extrema antes do ano 2015 é uma das tarefas mais importantes de nosso tempo. Compartilham também a convicção de que esta meta está ligada indissoluvelmente à paz e à segurança no mundo. Seu olhar se dirige agora à guia confiada ao governo alemão para o próximo período, no qual é necessário garantir que o G8 e a União Européia assumam as medidas necessárias para superar a pobreza. Os fiéis católicos estão dispostos a oferecer sua própria contribuição a estes esforços e apóiam de maneira solidária seu compromisso.

Implorando a bênção de Deus para a atividade do G8 e da União Européia sob a presidência alemã, aproveito a ocasião para expressar-lhe novamente, senhora chanceler federal, meu sincero agradecimento.

Vaticano, 16 de dezembro de 2006.
BENEDICTUS PP. XVI

[Tradução realizada por Zenit.
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