28/05/2007 - 00h00m
O dom da Ciência
Quando se perlustra a vida dos Santos, há um aspecto que merece especial atenção: a capacidade de relacionar as criaturas com o Senhor do universo, numa compreensão à luz divina, do que existe. É o Dom da Ciência que proporciona esta articulação, imergindo sempre o homem em Deus.
Em pleno Areópago de Atenas, São Paulo proclama: “Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo ele o Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos pelos homens... nele vivemos e nos movemos e existimos” (Atos 17,24.28). São Francisco de Assis, diante das belezas da natureza, pensava, instantaneamente, no Criador. A este santo a imponência dos rochedos lembrava o Todo-Poderoso; as flores, os riachos, o sol, a lua recordavam-lhe a bondade e a sabedoria imensa do Altíssimo. Tudo era pretexto para se elevar até o Grande arquiteto do Cosmos, pois tudo dele é um reflexo.
Martinez fala de São João da Cruz que deixou esta expressiva estrofe referente à divindade: “Mil graças derramando, / passou por estes bosques com presteza, / e tendo-os olhado, / com sua simples figura / deixou-os vestidos de sua beleza”. Comenta em seguida: “Com magnífica figura poética, São João apresenta Deus que vai passando, vai passando pelo espaço, vai passando pelo universo, e ao ir passando vai derramando suas graças, e ao refletir-se sua divina figura nas coisas criadas, vai revestindo-as de luz”.
Neste místico se realizou o que diz o Livro da Sabedoria: “Deus conduziu o justo pelos caminhos retos e lhe mostrou o Reino de Deus e lhe comunicou a ciência dos santos”, (Sb 10,10) bem como o que o Apóstolo das gentes preconizou ao declarar aos colossenses que rezava por eles, para que andassem “dum modo digno de Deus, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo na ciência de Deus” (Cl 1,10).
Isto deve ser uma meta, pois Isaías vaticinou o reino universal e pacífico do Messias, quando “a terra estará cheia da ciência do Senhor” (11,9). É na medida em que cada seguidor do Filho de Deus se enche desta iluminação do Espírito Santo que o mundo se metamorfoseia. Se o Dom da Ciência faz referir tudo ao Ser Supremo, transforma, por isto mesmo, o que existe em degraus de maravilhosa escada que conduz ao infinito. Em conseqüência, aquilo que é passageiro, efêmero, transitório não se torna fim em si.
O autor da Carta aos Hebreus sintetiza este aspecto com estas palavras: “... não temos aqui cidade permanente, mas vamos buscando a futura” (Hb 13,14). Um dos efeitos deste Dom é, assim, o desprendimento das coisas materiais que só passam a ter sentido enquanto instrumentos para algo mais alto. Por outra, a liberdade e a alegria passam a habitar no coração do cristão.
São Paulo bem retratou os discípulos de Cristo “como tristes, mas sempre alegres; como pobres, mas sempre enriquecendo a muitos; como não tendo nada, mas possuindo tudo” (2 Cor 6,10). Ele deixou este conselho: “Alegrai-vos incessantemente no Senhor; outra vez eu vos digo alegrai-vos” (Fl 4,4). Repete deste modo o dito de Cristo, o qual dera motivo deste júbilo: “... alegrai-vos porque os vossos nomes estão escritos no céu” (Lc 10,20).
É que com o Dom da Ciência tudo é visualizado sob o prisma da eternidade. Os Reis Magos, “vendo a estrela ficaram possuídos de grandíssima alegria” ( Mt 2,10), pois logo pensaram no Messias prometido, que ansiosamente buscavam. Pela Ciência tudo se transforma em merecimentos para o dia do juízo, realizando cada um o que o Mestre ensinou: “Entesourai para vós um tesouro no céu” (Mt 6,20). Os trabalhos, as amarguras, as dificuldades são vistos como outras oportunidades oferecidas pela Providência para que se atinja a perfeição desejada pelo Redentor (Mt 5,48).
Tudo, deste modo, coopera então para o progresso espiritual dos que vêem o Onipotente em todas as circunstâncias da vida, nobilitando diuturnamente o ser humano.
Liberdade, gáudio, segurança e aprimoramento pessoal eis a partilha dos que cultivam esta ciência, o maior tesouro da vida.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana – MG
Em pleno Areópago de Atenas, São Paulo proclama: “Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo ele o Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos pelos homens... nele vivemos e nos movemos e existimos” (Atos 17,24.28). São Francisco de Assis, diante das belezas da natureza, pensava, instantaneamente, no Criador. A este santo a imponência dos rochedos lembrava o Todo-Poderoso; as flores, os riachos, o sol, a lua recordavam-lhe a bondade e a sabedoria imensa do Altíssimo. Tudo era pretexto para se elevar até o Grande arquiteto do Cosmos, pois tudo dele é um reflexo.
Martinez fala de São João da Cruz que deixou esta expressiva estrofe referente à divindade: “Mil graças derramando, / passou por estes bosques com presteza, / e tendo-os olhado, / com sua simples figura / deixou-os vestidos de sua beleza”. Comenta em seguida: “Com magnífica figura poética, São João apresenta Deus que vai passando, vai passando pelo espaço, vai passando pelo universo, e ao ir passando vai derramando suas graças, e ao refletir-se sua divina figura nas coisas criadas, vai revestindo-as de luz”.
Neste místico se realizou o que diz o Livro da Sabedoria: “Deus conduziu o justo pelos caminhos retos e lhe mostrou o Reino de Deus e lhe comunicou a ciência dos santos”, (Sb 10,10) bem como o que o Apóstolo das gentes preconizou ao declarar aos colossenses que rezava por eles, para que andassem “dum modo digno de Deus, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo na ciência de Deus” (Cl 1,10).
Isto deve ser uma meta, pois Isaías vaticinou o reino universal e pacífico do Messias, quando “a terra estará cheia da ciência do Senhor” (11,9). É na medida em que cada seguidor do Filho de Deus se enche desta iluminação do Espírito Santo que o mundo se metamorfoseia. Se o Dom da Ciência faz referir tudo ao Ser Supremo, transforma, por isto mesmo, o que existe em degraus de maravilhosa escada que conduz ao infinito. Em conseqüência, aquilo que é passageiro, efêmero, transitório não se torna fim em si.
O autor da Carta aos Hebreus sintetiza este aspecto com estas palavras: “... não temos aqui cidade permanente, mas vamos buscando a futura” (Hb 13,14). Um dos efeitos deste Dom é, assim, o desprendimento das coisas materiais que só passam a ter sentido enquanto instrumentos para algo mais alto. Por outra, a liberdade e a alegria passam a habitar no coração do cristão.
São Paulo bem retratou os discípulos de Cristo “como tristes, mas sempre alegres; como pobres, mas sempre enriquecendo a muitos; como não tendo nada, mas possuindo tudo” (2 Cor 6,10). Ele deixou este conselho: “Alegrai-vos incessantemente no Senhor; outra vez eu vos digo alegrai-vos” (Fl 4,4). Repete deste modo o dito de Cristo, o qual dera motivo deste júbilo: “... alegrai-vos porque os vossos nomes estão escritos no céu” (Lc 10,20).
É que com o Dom da Ciência tudo é visualizado sob o prisma da eternidade. Os Reis Magos, “vendo a estrela ficaram possuídos de grandíssima alegria” ( Mt 2,10), pois logo pensaram no Messias prometido, que ansiosamente buscavam. Pela Ciência tudo se transforma em merecimentos para o dia do juízo, realizando cada um o que o Mestre ensinou: “Entesourai para vós um tesouro no céu” (Mt 6,20). Os trabalhos, as amarguras, as dificuldades são vistos como outras oportunidades oferecidas pela Providência para que se atinja a perfeição desejada pelo Redentor (Mt 5,48).
Tudo, deste modo, coopera então para o progresso espiritual dos que vêem o Onipotente em todas as circunstâncias da vida, nobilitando diuturnamente o ser humano.
Liberdade, gáudio, segurança e aprimoramento pessoal eis a partilha dos que cultivam esta ciência, o maior tesouro da vida.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana – MG
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