RCC Tocantins
05/06/2007 - 00h00m

O dom do temor de Deus

 
A autoformação espiritual supõe árdua luta contra as inúmeras imperfeições humanas, quer psicológicas, quer morais. É processo que abarca a vida toda.

Como o primeiro passo é conservar sempre a união com Deus, evitando o pecado, é preciso uma humildade profunda, alicerce da santificação.

É o Dom do Temor de Deus que impregna deste senso da própria indigência ante Aquele que tudo é e tudo pode. Essa dádiva gera uma tal veneração respeitosa para com o Criador que o cristão é levado a fugir de quanto possa significar um afastamento d’Ele. Feliz quem imerge na contemplação da grandiosidade divina. Este tem cuidado vigilante, evitando os perigos para sua alma, e sempre se arrependendo das inevitáveis falhas, conseqüência da contingência humana.

No trato com Deus, não obstante ser Ele Pai sumamente misericordioso, cumpre se tenha um sentimento vivo de Sua grandeza infinita. Não se pode querer chamar a Deus a nosso tribunal, exigindo explicações do que acontece no mundo. Muitos, ante as amarguras e incompreensões, recriminam a Providência.

As relações com os outros, sob o influxo deste dom do Temor de Deus, se tornam cordiais, por se ver naquele com quem se convive um irmão, filho do mesmo Senhor Onipotente.

Não se trata, pois, de um temor de servo apavorado diante de um possível castigo de um déspota. O que se teme é se afastar d’Aquele que se vislumbra tão infinitamente perfeito e digno de todo amor. diversas são as afirmações da Bíblia que nos falam deste dom, sendo que algumas são aqui lembradas. Célebres os ditos do Livro dos Provérbios: “O temor de Deus é o princípio da sabedoria”, “prolonga os dias”, “é uma fonte de vida, para fazer a ruína da morte Provérbios (9,10; 10,27;14,27).

O Eclesiástico tem esta bela passagem: “O temor do Senhor é glória e honra e alegria e uma coroa de regozijo. O temor do Senhor deleitará o coração e dará alegria e gozo e larga vida”. Acrescenta depois: “O temor do Senhor expulsa o pecado, quem não tem este temor não poderá ser justo” . Afirma ainda: “Não há coisa melhor do que o temor de Deus e nada há mais doce do que observar os mandamentos do Senhor” (Ecl 1,11;12; 27). São Paulo dá este conselho: “... purifiquemo-nos de toda a imundície da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (2 Cor 7,1).

Este dom é fonte de humildade contra toda a soberba. À altivez se opõe o temor filial que teme a ofensa ao Ser Supremo, o qual se ama como Pai amoroso e do qual não se quer separar em hipótese alguma. Eis por que, segundo Santo Tomás, este dom ocupa o primeiro lugar, se seguimos uma ordem ascendente entre os sete dons. Difere, portanto o temor filial do temor servil que é o medo de ser punido por Deus. O temor filial leva a recear o desprezo da graça divina e se liga à virtude da esperança, dado que o cristão se volta confiante para o seu Criador e não para si mesmo, como acontece no temor servil, que teme o castigo.

O grande meio para se crescer na posse do verdadeiro temor de Deus é a reflexão sobre a santidade divina, além da fuga ininterrupta das ocasiões de pecado. O fascínio da sublimidade do Criador une os corações a Ele, incutindo a precaução em não desagradá-lo.

Daí resulta a correção no agir, a busca da perfeição, o equilíbrio interior, o autodomínio que dilatam a existência, a qual fica imune das agressões prejudiciais à saúde corporal e mental.

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana - MG

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