RCC Tocantins
25/05/2007 - 00h00m

O dom do Conselho

 
Vieira levanta esta questão: “A melhor e a pior coisa que há no mundo qual será?” Responde ele em seguida: “A melhor e pior coisa que há no mundo é o conselho. Se é bom, é maior bem; se é mau é o pior mal”.

O salmista proclama: “Bem-aventurado o homem que não se deixa levar pelo conselho dos ímpios e não anda pelo caminho dos pecadores e não se senta na reunião (dos maus)” (Sl 1,1). O Livro dos Provérbios afirma: “Ao insensato parece reto seu proceder; o que porém é sábio ouve os conselhos. Acrescenta: Os projetos malogram-se onde não há conselho, mas onde há muitos conselheiros (bons) confirmam-se... A vereda da vida conduz ao alto o homem instruído, para se desviar do abismo do inferno” (Pv 15,21-22. 24) Donde o alerta do Eclesiástico: “Vive em amizade com muitos, mas seja seu conselheiro um entre mil” (Ec 6,6). Jó foi explícito: “... longe de mim o modo de pensar dos ímpios” (Jó 21,16).

Os feitos que mais beneficiam a humanidade têm como fonte uma inspiração interior conscientemente assumida ou felizes sugestões vindas de fora e levadas à prática. Estas advêm de diversos mananciais. Vieira elenca-os nestas argüições: “Quantas vezes nos dão bons conselhos os confessores? Quantas vezes nos dão bons conselhos os pais? Quantas vezes nos dão bons conselhos os amigos? Quantas vezes nos dão bons conselhos os livros? Quantas vezes nos dão bons conselhos os anjos da guarda por meio das inspirações? Quantas vezes nos dão bons conselhos os exemplos, os castigos e os casos tão raros e portentosos que vimos suceder no mundo para que escarmentemos em cabeça alheia; e nós contudo tão loucos e tão desaconselhados?”

É destas diretrizes que promanam os atos mais louváveis que enriquecem o homem e fazem suas atitudes lucentes. Adverte, porém, Vieira: “O conselho que não se acerta com entendimento, é conselho errado; mas o conselho que depois de acertado não se executa, não só é errado, é fátuo”.

O Dom do Conselho supõe, de fato, uma disposição interna da parte de quem capta a luz e percebe a vereda a trilhar. Assim, aquele que recebe o influxo do Espírito Santo e vê o que deve obrar, se não age em conseqüência, obstrui o canal das graças iluminadoras.

Com efeito, por que Deus irá, de outras feitas, falar a quem se obstina na sua indolência ou é irredutível em sua opinião formada? No referido Livro dos Provérbios a Sabedoria Eterna diz: “Eu detesto a arrogância e a soberba, o caminho corrompido e a língua dupla. Meu é o conselho e a equidade, minha é a prudência, minha é a fortaleza” (Pv 8, 13-14).

Como se percebe, a iluminação de Deus está condicionada à prática das boas obras, ou seja, à execução do que deve ser feito. No Gênesis vemos que José foi nomeado superintendente do Egito porque orientou os dirigentes locais e “agradou o conselho a Faraó e a todos os seus ministros e disse-lhe: Poderemos nós encontrar um homem como este, que seja (tão) cheio de espírito de Deus?” (Gên 41,37-38). A ele mesmo coube colocar em prática o que aconselhara para salvar a região. Há instantes na vida nos quais é tão intrincada a rede de fatores a serem analisados que a razão humana não encontra logo a explicação que justifique uma tomada de posição. Não se pinça a lógica do contexto, a coordenação interna dos conhecimentos e não se tem como interpretá-los para se tomar uma resolução adequada. Daí a necessidade da iluminação celeste e de se ater ao parecer de alguém experiente.

Nos casos mais complexos a virtude da prudência não é suficiente. Ela, por si mesma, não oferece a total segurança para se atinar com as providências a serem colocadas em prática de imediato. É certo que, muitas vezes, diretamente o Espírito Santo revela o que se deve operar. Como Deus, normalmente, se utiliza das criaturas para seus fins sublimes, em muitas circunstancias é mister se recorrer a outrem para que se tenha uma reta direção de determinadas ações. Deus, geralmente, se serve da experiência vivencial de pessoas ajuizadas e bem vividas para guiar quem deseja acertar.

O Dom do Conselho é necessário para que lúcida seja a mente, seguros os desígnios, certas as resoluções, pensados os ditos, cauteloso o modo de proceder. Os pais, mestres e amigos carentes deste Dom não podem orientar com clarividência, mormente nos casos mais difíceis, os que com eles convivem e estão à míngua de uma orientação segura e oportuna. O hábito de invocar as luzes do Espírito, aliado a uma obsequiosa atenção à Sua voz, é meio seguro de se obter a intervenção divina e se chegar a soluções práticas e sábias dos problemas existenciais mais intrigados. Então menos erros são cometidos.

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana – MG

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