Por solicitação de irmãos nossos, hoje vamos falar sobre o dÃzimo ou outras formas de colaboração equivalentes, normalmente entendida como aquela contribuição financeira e periódica que o cristão oferece livremente para a comunidade, à qual pertence e da qual participa, com o objetivo de ajudar a fim de que possa acontecer tudo o que envolve a evangelização na comunidade, razão de ser da própria Igreja, pois ela existe para evangelizar (cf. EN 14).
O dÃzimo permite que a comunidade sobreviva, se mantenha, possa prestar seus serviços, consiga ajudar os necessitados, enfim, realize sua missão evangelizadora. Junto com a contribuição financeira, a comunidade precisa dos dons e talentos de cada membro, de seu envolvimento concreto e voluntário. Pensando assim, o dÃzimo é, antes de tudo, um compromisso de fé e de amor com a comunidade, em que assumimos nosso batismo como membros participantes e coerentes, onde vivemos o espÃrito da partilha e da doação, fundamentados no mandamento do amor, sÃntese de todo evangelho.
O dÃzimo é também um sinal concreto de amor e gratidão a Deus pelos dons que recebemos, sobretudo, pelo seu imenso amor que nos quer participantes de sua vida. Para ajudar-nos na reflexão, vejamos como escreve São Paulo aos CorÃntios, ao motivar uma coleta em benefÃcio dos cristãos de Jerusalém, em urgente necessidade: “É bom lembrar: ‘Quem semeia pouco também colherá pouco, e quem semeia com largueza colherá também com largueza’. Que cada um dê conforme tiver decidido em seu coração, sem pesar nem constrangimento, pois ‘Deus ama quem dá com alegria’.
Deus é poderoso para vos cumular de toda sorte de graças, para que, em tudo, tenhais sempre o necessário e ainda tenhais de sobra para empregar em alguma boa obra†(2Cor 9, 6-8). Neste texto bÃblico, como em outros, percebemos que o dÃzimo ou outras contribuições praticadas nas primeiras comunidades cristãs tornam-se expressão de um ato de fé, de gratidão, de amor a Deus e aos irmãos.
Pelo que vimos acima, o dÃzimo não pode ser confundido com pagamento de taxa de sócio, como se a Igreja fosse um clube ou uma sociedade, a qual existe apenas para prestar determinados serviços (sacramentos, enterros…) e muito menos ainda como se fosse uma instância para comprar as bênçãos de Deus, seus favores e milagres. Portanto, o dÃzimo não é imposto, pagamento ou taxa. A graça de Deus não tem preço e não pode ser comprada. Assim compreendemos que o dÃzimo é uma devolução generosa, um sinal de gratidão e partilha consciente e responsável, dentro do espÃrito do verdadeiro sentido de nosso batismo, quando nos tornamos filhos de Deus e irmãos dos outros. A atitude filial e fraterna da fé abre os corações dos fiéis e tornam a partilha um gesto normal e coerente; enquanto que atitudes egoÃstas e avarentas fecham os corações e consideram a partilha como algo difÃcil e até desnecessário.
Segundo o verdadeiro espÃrito do dÃzimo cristão, todo batizado é convidado a ajudar em sua comunidade, proporcionalmente com sua situação de vida; a contribuição dos pobres, por menor que seja, é também muito valiosa e importante, pois ninguém é tão pobre que não tenha nada a repartir; o que lembra a oferta da viúva, elogiada por Jesus no evangelho (Mc 12, 41-44). E quem tem mais recursos ajude generosamente na proporção de suas possibilidades. O dÃzimo não é imposição, mas ato generoso, coerente com a vida cristã, orientado pelo mandamento do amor, que Jesus nos deixou.
(Dom AloÃsio Alberto Dilli - Bispo de Santa Cruz do Sul)