HOMILIA
Santa Missa pela Jornada das FamÃlias em ocasião do Ano da Fé
Praça São Pedro – Vaticano
Domingo, 27 de outubro de 2013
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
As leituras deste domingo nos convidam a meditar sobre algumas caracterÃsticas fundamentais da famÃlia cristã.
1. A primeira: a famÃlia que reza. O trecho do Evangelho coloca em evidência dois modos de rezar, um falso – aquele do fariseu – e outro autêntico – aquele do publicano. O fariseu encarna uma atitude que não exprime a gratidão a Deus pelos seus benefÃcios e a sua misericórdia, mas sim satisfação de si. O fariseu se sente justo, se sente no lugar, se apoia nisso e julga os outros do alto de seu pedestal. O publicano, ao contrário, não multiplica as palavras. A sua oração é humilde, sóbria, permeada pela consciência de sua própria indignidade, das próprias misérias: este é um homem que realmente se reconhece necessitado do perdão de Deus, da misericórdia de Deus. A oração do publicano é a oração do pobre, é a oração que agrada a Deus, que, como diz a primeira Leitura “chega à s nuvens†(Eclo 35, 20), enquanto a do fariseu é sobrecarregada pelo peso da vaidade.
À luz desta Palavra, gostaria de perguntar a vocês, queridas famÃlias: rezam alguma vez em famÃlia? Alguns sim, eu sei. Mas tantos me dizem: como se faz? Mas, se faz como o publicano, é claro: humildemente, diante de Deus. Cada um com humildade se deixa olhar pelo Senhor e pede a sua bondade, que venha a nós. Mas, em famÃlia, como se faz? Porque parece que a oração seja algo pessoal e então não há nunca um momento adequado, tranquilo, em famÃlia… Sim, é verdade, mas é também questão de humildade, de reconhecer que temos necessidade de Deus, como o publicano! E todas as famÃlias têm necessidade de Deus: todos, todos! Necessidade da sua ajuda, da sua força, da sua benção, da sua misericórdia, do seu perdão. E é necessário simplicidade: para rezar em famÃlia, é necessário simplicidade! Rezar junto o “Pai Nossoâ€, em torno da mesa, não é algo extraordinário: é algo fácil. E rezar junto o Rosário, em famÃlia, é muito bonito, dá tanta força! E também rezar um pelo outro: o marido pela esposa, a esposa pelo marido, ambos pelos filhos, os filhos pelos pais, pelos avós… Rezar um pelo outro. Isto é rezar em famÃlia, e isto torna forte a famÃlia: a oração.
2. A Segunda Leitura nos sugere um outro ponto: a famÃlia conserva a fé.O apóstolo Paulo, no fim de sua vida, faz um balanço fundamental e diz: “Conservei a fé†(2 Tm 4, 7). Mas como a conservou? Não em um cofre! Não a escondeu sob a terra, como aquele servo um pouco preguiçoso. São Paulo compara a sua vida a uma batalha e a uma corrida. Conservou a fé porque não se limitou a defendê-la, mas a anunciou, irradiou-a, levou-a longe. Colocou-se do lado oposto a quem queria conservar, “embalsamar†a mensagem de Cristo nos confins da Palestina. Por isto fez escolhas corajosas, foi a territórios hostis, deixou-se provocar pelos distantes, por culturas diversas, falou francamente sem medo. São Paulo conservou a fé porque, como a havia recebido, doou-a, indo à s periferias sem se apegar a posições defensivas.
Também aqui, podemos perguntar: de que modo nós, em famÃlia, conservamos a nossa fé? Nós a temos para nós, na nossa famÃlia, como um bem privado, como uma conta no banco, ou sabemos partilhá-la com o testemunho, com o acolhimento, com a abertura aos outros? Todos sabemos que as famÃlias, especialmente as mais jovens, muitas vezes são “apressadasâ€, muito ocupadas: mas alguma vez já pensaram que esta “corrida†pode ser também a corrida da fé? As famÃlias cristãs são famÃlias missionárias. Mas, ontem ouvimos, aqui na Praça, o testemunho de famÃlias missionárias. São missionárias também na vida de todos os dias, fazendo as coisas de todos os dias, colocando em tudo o sal e o fermento da fé! Conservar a fé na famÃlia e colocar o sal e o fermento da fé nas coisas do cotidiano.
3. Um último aspecto recebemos da Palavra de Deus: a famÃlia que vive a alegria. No Salmo responsorial encontra-se esta expressão: “os pobres escutem e se alegrem†(33/34, 3). Todo este Salmo é um hino ao Senhor, origem de alegria e de paz. E qual é o motivo deste alegrar-se? É este: o Senhor está próximo, escuta o grito dos humildes e os livra do mal. Escrevia ainda São Paulo: “Alegrai-vos sempre…o Senhor está próximo†(Fil 4, 4-5). É…eu gostaria de fazer uma pergunta hoje. Mas, cada um leve-a ao seu coração, a sua casa, como uma tarefa a fazer, certo? E se responda sozinho. Como está a alegria na sua casa? Como está a alegria na sua famÃlia? E dêem vocês a resposta.
Queridas famÃlias, vocês sabem bem: a verdadeira alegria que se desfruta na famÃlia não é algo superficial, não vem das coisas, das circunstâncias favoráveis…A alegria verdadeira vem da harmonia profunda entre as pessoas, que todos sentem no coração, e que nos faz sentir a beleza de estar junto, de apoiar-nos uns aos outros no caminho da vida. Mas na base deste sentimento de alegria profunda está a presença de Deus, a presença de Deus na famÃlia, está o seu amor acolhedor, misericordioso, respeitoso para com todos. E, sobretudo, um amor paciente: a paciência é uma virtude de Deus e nos ensina, em famÃlia, a ter este amor paciente, um com o outro. Ter paciência entre nós. Amor paciente. Somente Deus sabe criar a harmonia das diferenças. Se falta o amor de Deus, também a famÃlia perde a harmonia, prevalecem os individualismos e se extingue a alegria. Em vez disso, a famÃlia que vive a alegria da fé a comunica espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a sociedade.
Queridas famÃlias, vivam sempre com fé e simplicidade, como a Sagrada FamÃlia de Nazaré. A alegria e a paz do Senhor estejam sempre com vocês!