RCC Tocantins
18/07/2007 - 16h56m

O Pan no Brasil ou o Brasil no Pan?

 

Ainda sob a alegria da vitória de 3 X O sobre a Argentina e vibrando com a seleção que calou a boca dos corvos de plantão, aproveito a festa para meditar sobre outro aspecto pelo qual o esporte deve ser abordado. Ele me parece muito sério e de alto teor educativo.


Há um hábito que persegue o Brasil. Decorre de nosso ancestral complexo de inferioridade. E aparece em vários episódios coletivos. Agora está presente no Pan, e, para alertar, escrevo esta modesta e respeitosa crônica, enquanto há tempo de corrigir distorções. Em todo nosso jornalismo, em rádio, jornal, TV e Internet, já se pode observar neste PAN uma hegemônica “brasileirada”, “brasileirice” ou “brasileirite”. Consiste em deixar de lado a beleza do atletismo e somente aludir aos atletas brasileiros, só transmitir cenas deles e viver de um único tema: o desempenho e ass medalhas dos patrícios. São 42 países mas, para a nossa mídia, só existe o Brasil. Não é o Pan no Brasil: é o Brasil no Pan...


Vamos por partes.


1) Como técnica jornalística da informação objetiva, é falha grave, pois ocorre mais como torcida de quem informa do que como noticiário imparcial.


2) Por trás da “brasileirite”, esconde-se a luta por audiência, leitura, ou escuta radiofônica, que consiste em tomar carona no sentimento nacional e agradar ao torcedor médio, em vez de mostrar ou aludir aos demais atletas e à beleza de seus desempenhos.


3) É o predomínio da notícia como espetáculo ou entretenimento sobre o valor intrínseco e profundo do esporte em seu caráter educativo.
4) É base para propaganda até de cerveja, infiltrada de modo solerte e perigoso no meio dos anunciantes que, por patrocinar, ganham a simpatia do público jovem.


5) Ainda dentro da estratégia de dominação ideológica pelos padrões do sistema produtor, ao dar mais valor às medalhas apenas do Brasil derroga-se o ideal olímpico, e impõe-se a regra de um nacionalismo caduco em plena era da globalização. Também se retira do espectador ou leitor o direito de ver a competição em plenitude e não apenas o desempenho do Brasil.


6) Convoco diretores de esporte, editores de jornal, rádio e televisão, gente sabidamente especializada e competente, a refletir sobre estas modestas considerações de um velho observador da vida e do esporte e a nos mostrarem não somente o Brasil no Pan, mas principalmente o Pan no Brasil.

Artur da Távola

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