RCC Tocantins
14/05/2008 - 00h00m

Um só espírito

 
“Os fiéis não demonstram conhecer o corpo de Cristo, se não cuidam de ser o corpo de Cristo. Tornam-se corpo de Cristo se querem viver do espírito de Cristo. Do espírito de Cristo vive somente o corpo de Cristo. Compreendei, irmãos, o que digo? Tu és um homem, possues o espírito e possues o corpo. Chamo espírito o que comumente se chama alma, pela qual és homem: és composto de fato de alma e de corpo. E assim, possues um espírito invisível e um corpo visível. O princípio vital de teu ser é teu espírito que vive no teu corpo. É o meu corpo que vive do meu espírito. Queres viver do espírito de Cristo? Deves estar no corpo de Cristo. O corpo de Cristo não pode viver se não do espírito de Cristo. Diz São Paulo na 1Coríntios 10,17: ‘Porque existe um só pão, nós, mesmo sendo muitos, somos um só corpo’. Mistério de amor! Símbolo de unidade! Vínculo de caridade!” (S.Agostinho, Evangelho de João 26, 13).

Celebramos hoje Pentecostes: a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja que nascia na pessoa dos apóstolos e, imediatamente pela imposição das mãos dos mesmos sobre os que ouviram a pregação de Pedro e se tornaram filhos de Deus pelo batismo. E assim continua hoje e será até o fim dos tempos.

Possuímos portanto um motor, “a força do alto”. A festa de Pentecostes deveria ajudar-nos a descobrir este motor e como se faz para colocá-lo em ação. O livro dos Atos dos Apóstolos, que conta a vida da primeira comunidade cristã, fala da vinda do Espírito Santo que teve lugar cinqüenta dias depois da Páscoa. Já no dia da Ressurreição, Jesus aparecendo aos apóstolos, lhes impusera as mãos para conferir o mesmo dom, dizendo: “Recebei o Espírito Santo”, conferindo-lhes o poder divino de perdoar os pecados.

Em Pentecostes, o papel do Espírito Santo é ser o princípio da unidade e universalidade da Igreja e como força da missão, o que fica evidente desde o princípio pela manifestação do Espírito na presença de diversos povos e línguas. Ele é o princípio da vida nova que tem sua fonte na morte de Cristo. O Espírito vem do coração de Cristo, traspassado pela lança, expressão culminante do amor do Salvador.

Em Pentecostes, João fala da vinda do Espírito com o símbolo do vento: “O vento sopra onde quer, dele se sente a voz, mas não se sabe de onde vem e para onde vai: assim acontece naquele que nasceu do Espírito”.

O Espírito vem sobre a Igreja no dia em que Israel celebrava a festa da Lei e da aliança. Isto indica que o Espírito Santo é a nova lei, a lei espiritual não escrita sobre tábuas de pedra, mas de carne, os corações dos homens. O dedo de Deus, isto é o Espírito Santo, enche de si os fiéis juntos reunidos, em nome de Cristo Jesus.

Deveríamos portanto tomar consciência que nossos deveres religiosos não poderiam ser feitos por constrangimento, por temor ou por hábito, mas por íntima convicção e quase por atração, porque Deus é Pai e não patrão.

Nossa fé se fez viva. Nossa fé nos deve levar ao conhecimento daquele em quem acreditamos. O Evangelho é Cristo, uma pessoa. A adesão da fé se faz a uma pessoa. Não é conhecimento teórico, mas prática de nova vida. Uma transformação que traz como conseqüência o relacionamento caridoso com os outros, necessidade e força de testemunhar. Tudo faz parte da nova vida. Naturalmente o amor das Escrituras, a oração e os sacramentos devem ser nosso pão de cada dia e não práticas piedosas genéricas. Assim a vida decorrerá na calma, na confiança, na alegria e na paz.

Muitos cristãos fazem o transcurso de sua vida apenas com pão material, sem alegria, sem entusiasmo, quando poderiam ter cada dia, espiritualmente falando, todo o bem de Deus: a certeza do amor de Deus, a coragem que dá a sua palavra, a alegria que vem da experiência do Espírito e da comunhão com os irmãos, tudo retomado e oferecido a nós concretamente no banquete da Eucaristia.

O segredo para experimentar este novo Pentecostes, chama-se desejo. É a centelha que acende o motor do Espírito Santo em nós. Jesus prometeu: “Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas a vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celeste dará o Espírito Santo àqueles  que lhe suplicam” (Lucas 11, 13).

“Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz! Vinde, Pai dos pobres, dai aos nossos corações os vossos sete dons!”

Fonte: Dom Geraldo M. Aqnelo - Arcebispo de Salvador

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