RCC Tocantins
30/07/2007 - 00h00m

Um mundo, uma promessa

 
Era primeiro de agosto de 1907. Um grupo de vinte rapazes, liderado por um major-general que regressava como herói de mais uma guerra na África do Sul, punha em prática os tópicos de um manual de sobrevivência. Como palco, escolheu-se a ilha de Brownsea, na Inglaterra. Como desafios, a natureza e suas surpresas ou armadilhas.

Baden-Powell era o líder. O manual escrito por ele propunha um jogo de ação, aventura, contato com a natureza, vida em equipe e serviço de ajuda mútua. Um desafio que lembrava a caça ao javali selvagem, “o único animal que se atreve a beber água no mesmo bebedouro com um tigre”, lembrava ele. O mesmo que dizer: na luta pela sobrevivência é preciso ter coragem e estar sempre alerta.

Assim nascia o escotismo. Já no ano seguinte agregava ao seu manual as experiências daquele primeiro acampamento, sem imaginar que seu novo livro cativaria a simpatia de tantos jovens e crianças no mundo inteiro. O movimento obrigou seu fundador a abandonar todos os demais projetos para se dedicar única e exclusivamente a “uma vida de serviço ao mundo, através do escotismo”.

Eis a razão do lema “Um mundo, uma promessa”. O movimento cresceu de forma extraordinária, chegando ao continente sul americano no ano seguinte. No Brasil chegou em 1910, adotado inicialmente como uma proposta de educação militar e governamental. Modificou-se rapidamente, pois que seus atrativos e benesses não se restringiam a um grupo de jovens privilegiados. Tanto que não demorou muito para aceitar garotas em seus quadros. Esse é o escotismo, um movimento centenário em sua história, porém surpreendentemente atual e de vanguarda em nossos dias.

Afinal, qual o segredo? O tripé dos princípios do escotismo talvez nos responda. Por primeiro, exige-se a crença e o dever para com Deus, independente de profissão religiosa. Basta que se tenha fé. Depois é preciso respeito ao próximo, com uma vida devotada à ação social e à participação comunitária, prestando serviços de interesses coletivos. Por fim, é preciso respeito a si próprio, buscando uma vida saudável e auto-estima para crescimento físico e intelectual.
Seus mandamentos trazem conceitos que são válidos para todos os que buscam uma vida em harmonia com Deus, a natureza e o próximo. É oportuno cita-los: ser digno de confiança; ser leal à pátria, aos colegas, pais, empregadores e subordinados; ser útil e ajudar os que precisam; ser amigo de todos, não importando o credo ou classe social a que pertencem; usar sempre de cortesia e polidez; ser defensor da natureza e dos animais; obedecer aos pais, monitores e chefes; sorrir sempre, mesmo diante de dificuldades; praticar a economia dos bens e recursos e, por último, ser limpo no pensamento, na palavra e na ação.

Não por acaso, o movimento de Baden-Powell recebe hoje um tributo de honra e gratidão no mundo todo. O próprio papa se dignou dirigir-lhes uma palavra de reverência, dizendo: “Fecundado pelo Evangelho, o escoteirismo não é só um lugar de autêntico crescimento humano, mas também o lugar de uma proposta cristã forte e de uma verdadeira maturação espiritual e moral, assim como um autêntico caminho de santidade” (Carta aos Escoteiros).

Estamos, portanto, não apenas diante da história de um grupo de jovens idealistas, condicionados a uma doutrina de formalidades, mas sim diante de um modelo de vida grupal que diz respeito a qualquer ser humano, pois que seus princípios nos servem a todos.

É bom repetir: na luta pela sobrevivência é preciso estar sempre alerta. O lema dos escoteiros nos ensina a observar as carências e ameaças que rondam a integridade humana. Esse é nosso mundo, essa é a promessa de Deus: “Vigiai e orai, pois não sabeis nem o dia, nem a hora....”. Estejam preparados, diria Baden-Powell.

Wagner Pedro Menezes

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