RCC Tocantins
30/07/2007 - 00h00m

O pivô da questão

 
Por vezes, questões ligadas à afetividade e à sexualidade repercutem com muita intensidade na mídia, sobretudo quando a Igreja manifesta com palavras claras sua posição. E aí, até o profissional da comunicação, formado antes de ontem na faculdade de comunicação da esquina, acha que pode dizer com palavras solenes e importantes o quanto a Igreja é retrógrada, medieval e obscurantista, insensível diante dos problemas de hoje e acha que pode passar uma lição de moral à Igreja.

À parte o fato que está na hora de conhecer melhor aquela época da humanidade que chamamos de "medieval" e à parte o fato que às vezes se atribuem à Igreja posições que ela não tem (por exemplo, de ser contra o planejamento familiar, pois a Igreja sempre foi a favor da paternidade responsável). É um fato que a Igreja, nestas matérias, tem uma posição diferente da usual e comum. Por que será que ela tem posição diferente?

É patrimônio da cultura ocidental, sempre recordado pela Igreja, a evidência de que o ser humano deve ser "humano", isto é, deve elaborar, transcender, levar à maturidade aquilo que é por natureza, seja ela natureza física, psíquica, de caráter ou até educacional. Uma pessoa, por exemplo, pode ter por natureza um intenso desejo de se apropriar daquilo que não lhe pertence. Ninguém condena alguém por ter este desejo (patológico somente quando é cleptomania), mas a tal de "sociedade" diz: este desejo não pode ficar solto, deve ser elaborado, transcendido, deve ser responsabilizado, inclusive nas conseqüências. E se roubar, mesmo sendo pouco, vai para cadeia. Este princípio vale não só para aquilo que, usualmente, consideramos negativo, mas também para aquilo que, usualmente, consideramos positivo.
Ao falar daquelas forças positivas da natureza, chamadas afetividade e sexualidade, a Igreja recorda sempre que também elas devem ser "humanizadas", isto é, devem ser elaboradas, amadurecidas, responsabilizadas, transcendidas. Ao serem humanizadas, elas se tornam encontro (de esposos, de irmãos, de amigos, de pais, de filhos...), recordam também que se não forem humanizadas elas apodrecem, se estragam, decaem inexoravelmente; a afetividade passa a ser uso possessivo, dominação do outro e a sexualidade decai para o animalesco, comportamentos nos quais o ser humano renuncia àquilo que os caracteriza como "humanos".
O que acontece, porém, quando se divulgam questões sobre afetividade e sexualidade?

Propõe-se como ideal de comportamento ou, ao menos como praxe, a não humanização da afetividade e da sexualidade! Deu desejo? Pimba! É carnaval? Vale tudo! E se der complicações há a pílula do dia seguinte. Esta mesma sociedade lamenta depois, farisaicamente, a gravidez precoce, o abandono do estudo, a promiscuidade. Na realidade, porém, estes adolescentes aprenderam bem, até demais, a lição que nós lhes demos!
Não basta distribuir gratuitamente preservativos! O que todo mundo deve, pais, escola, mídia, pensamento comum, é fazer com que a afetividade e a sexualidade se tornem sempre mais "humanas", isto é, elaboradas, amadurecidas, responsabilizadas, transcendidas. E se isso for feito, tendo diante dos olhos como referencial a "estatura de Cristo" (cf. Efésios 4, 13) aí sim, saberemos qual é a potencialidade divina escondida na afetividade e na sexualidade humanas.

Dom Fernando Mason
Bispo diocesano de Piracicaba

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