Marta e Maria: uma metáfora do Cristianismo
O evangelista São Lucas, no capítulo 10, 38; 42; (versículos trinta e oito a quarenta e dois) nos apresenta um dos maiores desafios do cristianismo: a sabedoria do equilíbrio da ação e da oração. Nas personagens Marta e Maria estão contidas as duas dimensões do cristão: sua espiritualidade e sua ação transformadora. Essas duas mulheres, para nós, não são apenas duas pessoas, mas sim duas dimensões de uma mesma pessoa: sua oração e sua ação.
Marta, a dimensão do agir. Mulher que não se conforma com a atual realidade que lhe cerca (cf Rm 12,2). Dinamismo natural do homem e da mulher da Bíblia, sempre, após uma experiência mística, a pessoa se põe em movimento (Gn 12,1). É inaceitável uma pessoa de experiência de Deus ser acomodada. Um cristão conformado com a realidade de mundo é de se questionar o Deus que experienciou. A expressão de Jesus: Marta! Marta! Não é apenas uma chamada de atenção porque ela trabalha, mas porque ela despreza o fato de estar aos pés do Mestre, a dimensão contemplativa. Maria, a dimensão contemplativa do cristão. Tudo brota de um encontro pessoal com Jesus! A ação tem sua raiz na experiência mística e a mística tem seu sustento na ação: “De que aproveitará irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? (Tg 2,14). Maria é o homem e a mulher que está aos pés do Mestre na adoração diária, como diz a Encíclica Ecclesia de Eucharistia, de João Paulo II: “É bom demorar-se com ele e, inclinado sobre o seu peito como discípulo predileto, deixar-se tocar pelo amor infinito do seu coração” e Santo Afonso, já dizia: “A arte da devoção de adorar Jesus Sacramentado é, depois dos Sacramentos, a primeira de todas as devoções, a mais agradável a Deus e a mais útil para nós”.
Estas duas dimensões Marta e Maria são grandes desafios para o homem e mulher de hoje. Tem muitas Martas que mataram as Marias em suas vidas e muitas Marias que exilaram as Martas de sua existência, como diz o provérbio “oito ou oitenta”. Tem cristãos que só quer saber de estar na Igreja, o mundo, é uma abominação, não tem nenhum compromisso com ele, perdeu a consciência que o mundo é obra do Criador e nós integramos o mundo. O mundo é o espaço para a Marta agir transformando pela mística de Maria. E este desafio não é só em relação aos leigos, é também e principalmente de religiosos e sacerdotes. Há sacerdotes, sem julgar, que mataram a Maria de sua vida. Trabalham, trabalham, mas estar aos pés do Mestre, adorar, contemplar, é onde o bicho pega! Outros só querem dizer: Senhor, Senhor! Mas o agir transformador lhe custa. Portanto, fica a nós, o desafio da fusão das dimensões Marta e Maria para que, pela mística cristã, transformemos o mundo num paraíso.
Pe. Vanilson
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