RCC Tocantins
04/05/2007 - 00h00m

Maria, mãe dos homens

 
Em Minas Gerais, a evangelização se fez por leigos. No ciclo do ouro, quando a riqueza fluía dos aluviões ou faiscava à flor da terra, houve pessoas que depois de terem tudo nas mãos, tudo abandonaram e, pobres, se fizeram andantes a pregar a penitência e a incentivar uma devoção que os conduzisse a Deus e levassem-nos a uma vida cristã.

Fizeram-se eremitas e se reuniam com o povo em volta de um oratório que, rapidamente, se tornava um santuário, centro de peregrinação e de fé. Feliciano Mendes, em Congonhas, Frei Francisco da Soledade, na devoção ao Bom Jesus de Matosinhos e Bom Jesus da Lapa, do Livramento e tantos outros. As irmandades continuavam a obra evangelizadora, sobretudo, através da devoção.

Entre os eremitas, Irmão Lourenço de Nossa Senhora que, nas serras mineiras, no Caraça, pregou a misericórdia de Maria, chamando-a docemente de Mãe dos Homens, sob cuja invocação espalhou-se pelo Brasil. Ainda hoje, passados mais de dois séculos, ao rezar, em particular a Ave Maria, depois de invocá-la como Mãe de Deus, eu a chamo, confiante como Mãe dos Homens: “Santa Maria, Mãe de Deus e Mãe dos Homens rogai por nós”.

Que título consolador para nós! Maria, a Mãe do Verbo que se fez homem é também a nossa mãe. Mãe daquele que não tinha pecado, como ensina São Paulo, em tudo semelhante a nós, “exceto no pecado”, mas, também Mãe dos pecadores que igualmente traz no seu coração para estar sempre a seu lado e encaminhá-los à porta do céu.

Conta-se de Maria que Ela não é só a Porta do Céu, como rezamos na sua ladainha, mas também a janela do céu. E ilustra-se com este piedoso conto. Havia um rapaz que se entregara aos desmandos da juventude e cujo pai proibira de lhe abrir a porta da casa. Certa noite, ao chegar em casa, encontrou a porta fechada. Observou e viu uma fresta aberta na janela, por onde passava uma réstia de luz. Aproximou-se e lá estava sua mãe que a abriu e o deixou entrar.

Assim também Maria. Apesar de nossos pecados, abrirá para nós a misericórdia de Deus, fazendo-nos penetrar no céu. Ariano Suassuna, no seu Auto da Compadecida, nos mostra esta cena, quando a Mãe de Bondade arranca do poder de Satanás o pobre nordestino e lhe obtém o favor de seu Filho Divino.
Nascemos no pecado. No salmo 50, chegamos a nos confessar pecadores já no seio de nossa mãe: “Eis que eu nasci na iniqüidade; minha mãe me concebeu em pecado.” E não há ninguém sem pecado, nem mesmo uma criança de um dia, segundo a S. Escritura. Por isso sempre estamos a precisar da proteção daquela que foi concebida sem pecado e que nos foi dada por mãe.

São Bernardo nos ensinou uma belíssima oração: “Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem que jamais se ouviu dizer fosse desamparado quem recorreu a vossa proteção...” Maria nos socorre em todas as necessidades sempre que a invocamos, independente de seu olhar materno a olhar por nós mesmo sem o percebermos.

Quando Ela aceitou ser Mãe de Deus, no seu “Fiat” ela assumia também a maternidade de todos aqueles que se abririam para a fé e também de toda a humanidade, porque por seu Filho e através dela a todos é oferecida a salvação e por todos morreu o Redentor.

O coração de Deus não se fecha a seus pedidos. Nas bodas de Caná, ela nem chegou a pedir. Apenas duas frases, uma a seu Filho: “Eles não têm vinho” e outra aos encarregados da festa: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

E para que ficasse mais patente para os homens essa maternidade, no alto da sua cruz, Jesus nô-la deu por Mãe e reafirmou sua maternidade sobre os homens: “Mãe, eis ai teu filho. Filho eis aí tua mãe.”

O Evangelista conclui a cena dizendo que a partir daquela hora, ele a recebeu em casa. Vamos fazer o mesmo. Ter Maria sempre perto de nós, em todos os acontecimentos da vida, pois Ela é nossa Mãe. Tenhamos a confiança do povo simples que sabe do amor de seu coração materno.

Invoquemos a Maria nos momentos alegres e também quando a tristeza e a dor abate sobre nós. Com o mesmo São Bernardo, dizemos: “Olha para a Estrela, chama por Maria” A Mãe dos Homens estará conosco, agora e na hora da nossa morte. E diante do Trono de Deus, como Dante a descreve, intercederá para que possamos ver a glória daquele que rege o sol e as outras estrelas.

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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