RCC Tocantins
07/08/2007 - 00h00m

Fé com obras

 

“Mostra-me a tua fé... Abraão, nosso pai, não foi justificado pelas obras quando ofereceu sobre o altar, seu filho? Vês como a fé cooperava com as obras dele, e como pelas obras se tornou perfeita a sua fé” (Tiago 2, 18-22).

Mostrar vem de demonstrar. A demonstração se faz pela argumentação. A argumentação é como a visão com claridade de uma obra. Um dia, o apóstolo Filipe disse a Jesus: “Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta. ... O pai que habita em mim é que realiza suas obras. ... Crede ao menos por causa dessas obras. Quem crê em mim fará também obras que eu faço. E fará maiores ainda do que essas” (Jo 14. 8-12).

A evangelização é o anúncio da boa nova. A boa nova é Cristo Jesus, Filho de Deus, que passou por este mundo fazendo o bem.

Há dezesseis anos no bairro de Mata Escura em Salvador, a Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro fundou uma obra, ACOPAMEC, que tem executado várias ações em parceria com a comunidade, atendendo às suas necessidades, desenvolvendo um programa educativo de crianças e adolescentes, formando-os como pessoas conscientes e responsáveis, visando sua participação como cidadãos na sociedade e sua inserção no mercado de trabalho. Muitas outras obras têm nascido em nossas comunidades paroquiais, pequeninas ou grandes, que silenciosamente contribuem para a promoção humana dos bairros mais carentes da grande cidade do Salvador.

Ágata Esmeralda é o nome da primeira menina acolhida no “Spedale degli Innocenti” de Florença, Itália, no longínquo 5 de fevereiro de 1445.

Ágata Esmeralda é hoje o Projeto que opera em nome da dignidade da pessoa humana desde a concepção até a morte natural. Há quinze anos é presença concreta nos lugares mais carentes de Salvador, em meio aos pobres mais pobres, em favor das crianças. Recentemente preparou projetos de solidariedade também na Albânia, Costa do Marfim, Índia, Sri Lanka, Jerusalém, Congo, Nigéria e Equador.

No Brasil são mais de dez mil crianças acolhidas por sacerdotes diocesanos e missionários em 160 centros na Bahia que, graças à adoção à distância, dispõem cada dia de sadia alimentação, assistência à saúde e instrução escolar. Entre as crianças assistidas há numerosos portadores de graves deficiências.

Ágata Esmeralda opera em estreita colaboração com a Igreja local e com os missionários, sacerdotes, religiosas e leigos provenientes de vários paises do mundo e também de Florença.

A criação, desenvolvimento e manutenção de Ágata Esmeralda devem-se à fé, à obstinação, à consagração feita a Deus, do professor Mauro Barsi que, no dia 03 de agosto último, foi agraciado pela Assembléia Legislativa da Bahia com o título de cidadão honorário de Salvador.

Ágata Esmeralda não é somente coleta de fundos e adoções à distância, mas associação que colabora para difundir a cultura da vida e da dignidade humana. Por isso, promove na Itália e no estrangeiro, iniciativas de sensibilização contra a pedofilia e o turismo sexual, para difundir a cultura de paz e de acolhimento, através de encontros, mostras, publicações, para promover e difundir a dignidade da mulher e para difundir, em particular entre os jovens, o espírito de fraternidade, de empenho e de gratuidade, antídoto à sociedade consumista na qual muitas vezes são obrigados a viver.

A ACOPAMEC, apoiada por Ágata Esmeralda, é uma obra de fé que, posso dizer, tem feito tanto, mas reconhece que há muito o que fazer para melhorar a qualidade do ensino e para acompanhar mais de perto o processo educativo das crianças e dos adolescentes dentro do contexto familiar, econômico e social em que vivem constantemente e que faz de muitos o retrato da exclusão que atinge todos os níveis de sua vida.

Neste contexto, arte e cultura são um sonho bem longe da sua realidade, de forma geral para todas as comunidades da periferia da cidade de Salvador. A ausência gritante de bens culturais nos bairros periféricos é apenas o retrato fiel do “apartheid” social que divide a metrópole.

Vale lembrar aos adultos o elogio de João Paulo II às crianças: “O que é belo em vocês, é que cada um olha e dá as mãos às outras crianças, sem fazer diferença de cor, de condição social, de religião”.

É necessário, pois, tornar-se pequenino para compreender e entrar no reino do céu!

Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo

Arcebispo de São Salvador (BA)

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