RCC Tocantins
12/04/2007 - 00h00m

Evangelizar através da Arte Poética

 
“Quem tiver notado em si mesmo essa espécie de centelha divina que é a vocação artística – de poeta, escritor, pintor, escultor, arquiteto, músico, ator... -, percebe ao mesmo tempo a obrigação de não desperdiçar esse talento, mas de o desenvolver para coloca-lo a serviço do próximo e de toda a humanidade” João Paulo II, 1999

Tenho convicção que você, em algum momento da vida, deve ter composto um poema qualquer: ao escrever uma carta para o(a) namorado(a) ou para expressar-se numa peça teatral na escola ou, até mesmo, para ganhar uns pontinhos no trabalho de literatura exigido pelo professor. De certa forma, desde pequenos, aprendemos alguns pressupostos básicos sobre os principais nomes da poesia brasileira.

Ocorre que, ao estudar a Carta do Papa João Paulo II aos Artistas, percebo que há um sinal profético nos direcionando para utilizar a arte poética como meio de evangelização através de um renovado ardor missionário. Da mesma forma que vejo os ministérios da dança e teatro vislumbrarem como novas expressões de evangelização, tenho notado o desejo de Deus em usar a poesia a fim de salvar almas.

No mundo contemporâneo, o ser humano típico das sociedades industriais possui uma personalidade palpada entre o sentir e o pensar e/ou entre a razão e as emoções. Assim, a civilização ocidental assentou-se sobre três postulados: a primazia da razão que nos conduz à uma civilização racionalista; a primazia do trabalho que nos faz relegar o lúdico e a natureza infinita que se esquece de suprir as necessidades básicas do homem. Segundo Rubem Braga, "fala-se muito em mistério poético; e não faltam poetas modernos que procurem esse mistério enunciando coisas obscuras, o que dá margem a muito equívoco e muita bobagem. Se na verdade existe muita poesia e muita carga de emoção em certos versos sem um sentido claro, isso não quer dizer que, turvando um pouco as águas, elas fiquem mais profundas.".

Evangelizar por meio de poesia num mundo tão sem poesia parece desanimador. No entanto, apesar de tanta insensibilidade, tanta mediocridade, tanta barbárie, devemos utilizar essa arte partindo do princípio de que cada ser humano é: humano. Talvez o primeiro grande desafio de nossa arte poética é resgatar a dignidade da pessoa humana. A poesia, por si só, deve superar as indiferenças e libertar o ser humano dessa espécie de parede sólida, resultado das injustiças e opressão entranhadas historicamente na vida do homem. Ao incorporar aspectos cristãos, vejo que, além disso, a poesia pode se tornar um relevante canal de cura e libertação porque lida com múltiplos sentimentos e emoções.

Portanto, tem-se se tornado imprescindível saber o que cada época ou geração definia como sendo poesia, estudar a arte de como fazer versos e retomar algumas leituras iniciais que retratam a função da forma poética. Para início de conversa, é imprescindível esclarecer o que é poema e poesia. O escritor Assis Brasil diz que:

Poema é o ´objeto` poético, o texto onde a poesia se realiza, é uma forma, como o soneto que tem dois quartetos e dois tercetos, ou quatorze versos juntos, como é conhecido o soneto inglês. Um poema seria distinto de um texto ou estrofes. Quando essa nomenclatura definitiva é eliminada, passando um texto a ser apresentado em forma de linhas corridas, como usualmente se conhece a prosa, então se pode falar em poema-em-prosa, desde que tal texto (numa identificação sumária e mecânica) apresente um mundo mais ´poético` ou seja, mais expressivo, menos referente à realidade. A distinção se torna por vezes complexa. (...) a poesia pode estar presente quer no poema que é feito com um certo número de versos, quer num texto em prosa, este adquirindo a qualidade poema-em-prosa.

Por outro lado, o mesmo teórico diz que poesia é “uma manifestação cultural, criativa, expressiva do homem. Não se trata de um ´estado emotivo`, do deslumbre de um pôr-do-sol ou de uma dor-de-cotovelo; é muito mais do que isso, é uma forma de conhecimento intuitivo, nunca podendo ser confundido o termo poesia com outro correlato: o poema".

Numa visão grega, poesia = fazer e poema = o que se faz. Portanto, poema é a forma e poesia é a arte, sensibilidade, ministério. Assim como encontramos músicas medíocres por todos os lados, encontraremos poemas medíocres. De acordo com Aristóteles “não é ofício de poeta narrar o que aconteceu; é sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a verossimilhança e a necessidade. (...) a poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a história, pois refere aquela principalmente o universal, e essa o particular. (...) Daqui claramente se segue que o poeta deve ser mais fabulador que versificador; porque ele é poeta pela imitação e porque imita ações".

Mais que diz Aristóteles, o poeta é um ministro da poesia, é aquele que expressa vocábulos cujos significados são distintamente absorvidos por cada pessoa. Nesse sentido, o poeta ministeriado é um profeta que utiliza a riqueza do Magistério da Igreja e a Bíblia Sagrada para anunciar e denunciar em verso e prosa. É verdade que o poeta lírico escreve e expresssa-se na primeira pessoa. Este "eu lírico" ou "eu poético", a voz emissora do poema, deve ser utilizado para testemunhar as maravilhas que o Senhor faz na vida do poeta. É uma forma de transpor a visão de mundo e verbalizar de modo crítico a ação de Deus nos momentos de experiência pessoal com Jesus Ressuscitado.

A arte poética não é apenas uma confissão de problemas pessoais, é uma reinvenção da linguagem que rompe com os paradigmas e modelos de mundo escravizadores. A inspiração do poeta é o conjunto de dores, angústias e aflições porque passam os filhos de Deus. Numa linguagem mais simples um dos grandes pilares da inspiração poética cristã é o querigma. Os temas querigmáticos são fontes de profundas criações e recriações, basta oiharmos para a gama de produções musicais carismáticas que utilizam esses temas.

O Papa João Paulo II, ao conclamar os poetas num levante de evangelização, retoma a inter-relação poeta/profeta que existe no mundo ocidental desde os tempos de Sócrates que, por via de Platão diz que é quando estamos inspirados por um Deus que eles recitam todos esses belos poemas. Ninguém melhor que os profetas para usarem a imaginação com mais liberdade!

Certa vez, um autor pouco cristão disse que o santuário dos templos é o verdadeiro berço da poesia. A poesia é, indubitavelmente, um meio de glorificar a Deus, uma forma da prece. De acordo com o professor de história da filosofia moderna e contemporânea da Unicamp, Oswaldo G. Júnior, “ao longo da história, a relação do homem com o sagrado tem se mostrado um traço extremamente persistente” (Ver. Super Interessante, 2005, p.58). Apesar de o ser humano está em busca desta essência ou sentido da vida, continua desterrado em si mesmo, entretido com suas paixões e afastado das verdades revelados por Deus. Pois bem, a arte poética pode auxiliar na evangelização em virtude de sua beleza e pela facilidade do povo em memorizar sua mensagem. A poesia causa mais impacto nos sentimentos e afetos humanos do que a mesma mensagem no discurso prosaico que, por vezes, é muito pragmático e objetivo.

Na Sagrada Escritura encontramos alguns livros que são extremamente poéticos: Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos e Lamentações. O próprio Deus valeu-se das estruturas textuais predominantes para promover comunhão com o homem e faze-lo meditar sobre a vida espiritual. Ao meditar os textos destes livros, constatamos que, na linguagem hebraíca, predominam algumas características: o modo de pensar assume várias vertentes textuais. Exemplo: "Israel entrou no Egito, e Jacó peregrinou na terra de Cam" (Sl 105.23). Esta espécie de repetição de pensamento contribui na aquisição de valores como recurso de perseverar ou insistir na mensagem transmitida. Outra característica poética hebraica é marcar contraste com a idéia principal. Exemplo: "O Senhor conhece o caminho dos justos; mas o caminho dos ímpios perecerá" (Sl 1.6). Este embate de idéias não implica em confusão de idéias, mas em confronto de idéias para compreensão da mensagem. Quem mais literário que Deus?

No Antigo Testamento a poesia abarca as narrativas e os discursos proféticos. Já no Novo Testamento a poesia é menos comum porque é difícil escrever poesia numa segunda língua. Geralmente escreve-se na língua materna. Talvez isso explique essa escassez, pois o grego, com exceção de Lucas, era a segunda língua dos escritores do Novo Testamento.

Assim, concluo de modo poético esse artigo: 

“Se o homem se esquecesse da poesia, se esqueceria de si próprio. Voltaria ao caos original”. (Otávio da Paz)

"Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra" (Salmo 120:1-2).

"A vida são deveres, que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira...

Quando se vê, já é Natal...

Quando se vê, já terminou o ano...

Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida...

Quando se vê, passaram-se 50 anos!

Agora, é tarde demais para ser reprovado... “ (Mário Quintana)




IR AO SANTO E SER SANTO



Era somente na crise que eu procurava o Benedito

Esperando que ele intercedesse por mim em favor de um benefício

Se ele não me atendesse corria para os pés do Francisco

Na expectativa de receber tudo rapidíssimo.

Gostava muito também do famoso Antônio de Pádua

Pedia-lhe um namoro que se transformasse num casamento com eficácia

Não conseguindo o que queria, acusei-o de ajudar somente os magnatas

Conclui que os homens são todos iguais, não pensei duas vezes, recorri a Rita de Cássia

Como minhas preces não foram atendidas, pedi auxílio aos santos menos conhecidos

Os mais famosos estavam sobrecarregados e poderiam ficar estarrecidos

Fiz uma pesquisa : Rubão, Zita, Felicidade, João Maria Vianey e Tarcísio

Agora sim, eles eram só meus, todos os meus pedidos seriam atendidos

O meu esforço de nada valeu. Que decepção!

Pensei em desistir, quem sabe mudar de religião?

Mas um amigo me disse que isso não era a solução

Me perguntou se eu já havia procurado Maria, pois no céu é ela que tem mais ação.

Ela possui mais de cem títulos, então comecei por Nossa Senhora da Conceição

De nada adiantou; chamei por Fátima, Aparecida, Nazaré e Assunção

Piedade, das Graças, do Carmo, de Lourdes; não recebi nem uma atenção.

Da Providência, Do Amparo, Da Cabeça. Que fazer? Minha cabeça estava em grande confusão.

Procurei um padre para confessar e ele agiu com severidade:

 - “A culpa não é do santo! É você que está errado e não age com fidelidade

O santo pede a Jesus que atende aos que rezam e vivem na simplicidade

Não culpe o santo, nem Maria; reze sem pretensão e louve a Deus mesmo nas dificuldades.”

Aprendi a lição. Peço aos santos que me ensine a Deus adorar

Rogo a Maria que me ajude a não cansar de amar e perdoar..

Vejo nos santos, traços de perfeição, pois procuraram ao Pai agradar

Além de pedir aos santos, quero me entregar, amar o Amor para minha vida santificar.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Assis. Vocabulário técnico de literatura. São Paulo: Tecnoprint, 1979

CASTELLO, José Aderaldo. A literatura brasileira: origens e unidade: 1500-1960. São Paulo: Edusp, 1999. 2. v.

ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Abril Cultural, 1979

ELIOT, T. S. A essência da poesia: estudos e ensaios. Rio de Janeiro: Artenova, 1972

FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2. ed. São Paulo: Edusp: Fundação do Desenvolvimento da Educação, 1995.

MAIAKÓVSKI, Vladimir. Poética. São Paulo: Global, 1984

POUND, Ezra. A arte da poesia. São Paulo: Cultrix, 1976

SUASSUNA, Ariano. Iniciação à estética. Recife: UFPE, 1975

 

Júlio César dos Santos

Coordenador Estadual do Ministério das Artes do Estado de Minas Gerais

Disponível em www.rccminas.com.br

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