RCC Tocantins
06/08/2012 - 05h29m

A comunicação que não comunica

Dom Redovino Rizzardo, Bispo de Dourados (RS) 

A esta altura do campeonato, ninguém mais tem dúvida: se há algo que, no mundo, caminha a passos de gigante – como se dizia nos tempos em que as coisas andavam normalmente, ou seja, devagar – é a comunicação. Com três ou quatro anos, qualquer criança já é perita em tudo aquilo que eu nada entendo, como ipad, iphone, tablet, facebook, twitter, smartphone, etc.

Mas – já que perguntar não ofende – pode-se afirmar, sem mais nem menos, que a comunicação é a grande conquista da sociedade atual? Para uma multidão de pessoas, a resposta vai em sentido contrário. Uma delas é Jean-Paul Sartre (1905/1980). Em sua célebre peça “A portas fechadas”, ele coloca num mesmo quarto de hotel um homem e duas mulheres. O local é hermeticamente fechado: não há janelas e a porta está trancada. A luz é intensa e o calor, insuportável.

Os três inquilinos acabaram de falecer, e o lugar onde se encontram, é o inferno. Depois de uma vida devassa, onde o egocentrismo reinou soberano, ei-los imóveis, impassíveis e silenciosos, um frente ao outro, “comunicando” através dos olhos frios e inflexíveis o que lhes pesa no coração: a raiva e a frustração. Em dado momento, a tensão é tamanha, que um deles explode e diz para os outros dois: "Vocês lembram do enxofre, do fogo, dos diabos que os padres diziam existir? Como veem, nada disso é verdade. O inferno são os outros!".

Se comunicar é transmitir e oferecer o que se tem no coração, talvez Sartre tenha razão: é exatamente isso que faz da vida um inferno quando é somente o mal que vem à tona. Mas, pode acontecer também o contrário: se é o bem que irradiamos, o paraíso começa aqui e agora.

Infelizmente, a comunicação cresce em sofisticação, evolui na técnica, mas deixa a desejar no que é essencial: a comunhão, partilhando as graças que Deus derrama em quantos se abrem ao seu amor. A história da humanidade é o reflexo da história que cada ser humano desenvolve em seu interior. Façamos a experiência: nos dias em que tudo nos anda “atravessado”, dominados pela raiva, pela tristeza e pela desesperança, em poucos minutos contagiamos a todos os que nos cercam. Mas, se você tentar superar suas mágoas e amar (do jeito de Deus) cada pessoa que se aproxima, verá que, em poucos instantes, o céu começa a brilhar ao seu redor.

Por que os meios de comunicação social preferem muito mais divulgar notícias aliadas aos sete vícios capitais do que aos sete dons do Espírito Santo? Não será porque somos muito mais influenciados por aqueles do que por estes? Ao leitor, a resposta!

Para o cristão, comunicação é a de Pentecostes, não a de Babel. Se, em Babel, as muitas línguas foram fruto do orgulho e causa de separação, em Pentecostes, elas criaram conversão e comunhão: "Todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia. Cada um dos presentes os ouvia em sua própria língua anunciar as maravilhas de Deus" (At 2,4.11). É sempre assim: todos entendem a linguagem do amor!

Talvez tenha sido por isso que o Papa Bento XVI, em sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2012, lembrava que comunicar é, antes de tudo, silenciar, escutar e acolher: "O silêncio é parte integrante da comunicação e, sem ele, as palavras ficam sem conteúdo. No silêncio, escutamo-nos e conhecemo-nos melhor a nós mesmos, nasce e se aprofunda o pensamento, compreendemos com maior clareza o que queremos dizer ou ouvimos do outro, discernimos como nos devemos exprimir. Calando, permite-se à outra pessoa que fale e se exprima a si mesma, e nos impede de ficarmos presos, por falta de adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Abre-se, assim, um espaço de escuta recíproca e a relação humana fica mais plena. É no silêncio que se identificam os momentos mais autênticos da comunicação entre aqueles que se amam: o gesto, a expressão do rosto, o corpo, enquanto sinais que manifestam a pessoa. No silêncio, falam as preocupações, as alegrias, os sofrimentos, que encontram nele uma forma particularmente intensa de expressão. Do silêncio, nasce uma comunicação ainda mais exigente, que faz apelo à sensibilidade e a uma capacidade de escuta que frequentemente revela a medida e a natureza dos laços".

Tags: CNBB, Formação

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