RCC Tocantins
08/07/2023 - 14h23m

Carta aos carismáticos

Dêivide Régis 

Caríssimos irmãos e irmãs, graça e paz da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Este texto nos convoca a vivermos a dignidade da vocação a que fomos chamados. Significa vivermos como filhos de Deus, significa procurar viver a plenitude da filiação divina; afinal, "o ápice da nossa realização humana é viver como filhos no Filho" (Santo Ambrósio).

Noutras palavras, não devemos ser nem o filho pródigo, que pede a herança ao pai e sai de casa fisicamente, nem tampouco o filho mais velho, que também sai de casa afetivamente " ainda que continue no terreno, sai da presença amorosa do Pai ". Devemos, pois, procurar ser um filho que, errante, volta para casa e aceita o anel, as sandálias, a roupa alva e a vontade perfeita do Pai.

Esta dignidade da vocação a que fomos chamados, isto é, a dignidade da filiação divina pode ser sempre mais aprofundada a partir de pelo menos três passos: reconhecimento da própria natureza chamada à santidade; nutrir uma vida espiritual ativa manter o protagonismo missionário de filho.

Ao falarmos de reconhecimento da própria natureza chamada à santidade, precisamos nos fazer as seguintes perguntas: Quem sou eu hoje? Como eu estou verdadeiramente? Qual é a verdade sobre mim? Quais são as minhas qualidades e minhas fraquezas? Tenho reconhecido tais fraquezas para, a partir de tal reconhecimento, trabalhá-las e submetê-las ao Espírito Santo? Com efeito, diante de Deus nenhuma máscara, subterfúgio ou camuflagem subsistem. Faz-se necessária, portanto, uma profunda humildade diante de Deus, isto é, uma profunda consciência de nossa própria natureza e limitações.

A palavra que originou "humildade" foi a grega humus, que significa "terra". Este mesmo vocábulo da antiga Grécia também deu origem as palavras "homem" e "humanidade". Significa "criatura nascida da terra". Do Latim humilitas, denota tudo o que está perto do solo, o que tem pouca altura e altivez.

Com efeito, somos seres-humanos chamados à santidade encarnada na humanidade. Quanto mais humano eu for, mais próximo estarei da santidade; quanto mais distante da minha humanidade, mais distante da santidade eu estarei. O santo é aquele que, conhecendo sua natureza, a submete ao domínio do Espírito Santo e deixa-se lapidar por Ele. O "eu" cristão, coordenador, servo de Deus nunca deverá ser diferente do "eu" do cotidiano, por mais que eu possa pretender camuflar. Autenticidade é uma característica marcante de Jesus, nas Sagradas Escrituras.

Para ser um bom líder, é preciso ser um bom filho de Deus no cotidiano, alguém que reconhecendo sua própria natureza, a submete continuamente ao poder do Espírito Santo e procura se espelhar em Jesus. Só pode mudar verdadeiramente, aquele que reconhece a realidade que precisa ser transformada? Se eu acho que está tudo lindo, tudo bem, então a mudança não é possível. É preciso, pois, confrontar a nossa vida à Palavra de Deus e à Luz do Sol da Justiça para ver se ela permanece de pé.

Nesta terra estamos em contínuo combate espiritual, não contra os homens de carne, mas contra as forças espirituais do mal espalhadas pelos ares que tentam nos desviar do propósito de Deus a respeito do homem: a santidade. O grande escritor Pe. Lorenzo Scupoli (italiano, contemporâneo e próximo de São Francisco de Sales), que escreveu o clássico "Combate Espiritual", nos aponta duas grandes armas para esta batalha: desconfiança de si ("Não te firmes em tua própria sabedoria" - Pv 3, 5/ "Não sejais sábios aos vossos próprios olhos" - Rm 12, 16 / "O que se fia em seu próprio coração é um tolo" - Pv. 28,26) e total confiança em Deus (é Deus a força que opera em nós; é preciso apresentar-se humilde, despojado, dependente de Deus; tudo de bom em nós vem Dele, é inspirado por Ele).

Na prática, o que é "desconfiar de si"- Nunca confiar na própria força; nunca confiar só no seu conhecimento e experiência de vida ou de caminhada; questionar os pensamentos e inspirações à luz da Palavra de Deus; aguçar o senso crítico sobre ideologias, tendências, modelos de santidade inacessíveis e meramente moralistas; ter senso crítico sobre o que se vê, se experimenta e o que se lê. Neste particular, o Dom do Discernimento nos ajuda a distinguir o melhor dentre duas coisas boas.

Ainda sobre esta necessária "desconfiança de si", recentemente o Papa Francisco publicou a Carta Apostólica Sublimitas et miseria hominis (Sobre a grandeza e miséria do homem), dedicada ao filósofo francês Blaise Pascal - Autor da célebre frase "O coração tem razões que a própria razão desconhece". Ele vai se perguntar: "Que é um homem na natureza? Um nada comparado com o infinito, um tudo comparado com o nada." Trata-se da contradição, da dicotomia e da incoerência que não raro se verifica no coração do homem.

Quanto à segunda arma no combate espiritual - depositar a nossa confiança em Deus - significa que precisamos reconhecer a total dependência Dele, estar sempre desesperadamente necessitado de Sua graça, ser "pedintes contumazes" (Santa Catarina de Senna). Jesus é o modelo e sentido da nossa busca, do nosso ser no mundo.

Sobre nutrir uma vida espiritual ativa, o Catecismo da Igreja nos ensina que "a vida segundo o Espírito realiza a vocação do homem" (Catec. 1699). Que significa a vida no Espírito? Uma vida entregue, continuamente lapidada, continuamente dirigida, preenchida pelo Espírito Santo.

Com efeito, a oração nos torna amigos de Deus; trata-se de um colóquio de amizade, colóquio de amor com Aquele que verdadeiramente nos ama (Santa Teresa D?Ávila). Só se ama o que se conhece. Ainda sobre o combate espiritual, São João da Cruz nos ensina que "o demônio teme à alma unida a Deus como ao próprio Deus".

Falar de vida de oração não é algo corriqueiro para os cristãos, infelizmente. O mundo tenta de todas as formas nos roubar esse tesouro, que é a oração. Quem reza vê a sarça ardente e se torna perigoso... Quem reza tem profetismo, tem revelação da parte de Deus. Diz-nos São Padre Pio que quem não reza não se salva. Para sermos verdadeiramente sal da terra e luz do mundo, precisamos ser amigos íntimos de Jesus. Quanto mais nos aproximamos de Deus, mais nos tornamos fiéis àquilo que Ele criou: humanos virtuosos, santos Nele e por Ele.

Por fim, sobre manter o protagonismo missionário de filhos de Deus, entendamos que Ele nos criou auto transcendentes, isto é, pessoas que se realizam buscando a Deus e indo ao encontro do outro. Portanto, na missão também nos reencontramos como humanos. O filho de Deus é, por natureza, aberto ao outro.

A missão requer responsabilidade e alto nível de comprometimento: não é possível brincar com o nosso chamado, pois Deus não brincou ao nos chamar. Deus não recruta voluntários (que fazem o que dá, quando dá e do jeito que der), nem funcionários (cumpridores rígidos de tarefas para o patrão com base num salário); Deus recruta adoradores- servos. Nesta missão teremos perseguições, prisões, martírio. Não é possível desistir por qualquer coisa.

Que Maria Santíssima nos ensine a viver plenamente a dignidade de filhos e filhas de Deus e interceda sempre por nós, Seus amados.

Fonte:  RCCBrasil

Veni Sancte Spiritus!

Vinícius Rodrigues Simões

Presidente do Conselho Nacional da RCCBRASIL

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