RCC Tocantins
16/04/2007 - 00h00m

A vida carismática

 
O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído,
mas não sabes de onde vem, nem para onde vai.
Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito.
(Jo 3, 8)

Falar da vida carismática, no movimento de renovação no Espírito da Igreja Católica, não nos pode levar a pensar que só existe vida carismática na Renovação Carismática Católica (RCC). Isso seria um erro teológico e negaríamos os três pontos que nos quais estão firmados a nossa fé: a Sagrada Tradição, o Sagrado Magistério e a Sagradas Escrituras. Cada movimento, pastoral, congregação, comunidades, têm carismas próprios de serviço, portanto vida carismática, que contribuem junto com a RCC para o crescimento do Corpo Místico de Cristo. São Paulo em sua primeira carta à comunidade de Coríntios exorta o povo dizendo que "a cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum" (ICor 12, 7).

Nesse artigo não temos a pretensão de criar uma receita perfeita do que seja um verdadeiro carismático, mas temos o desejo de apenas fazer uma reflexão acerca do que o Senhor tem desejado dos membros da RCC. Considerando o que já foi dito no primeiro parágrafo e nesse, nos atentaremos apenas a vida carismática no movimento da RCC.

Temos três problemáticas que geram um desgaste no modo próprio da Renovação Carismática utilizar-se dos carismas espirituais nos Grupos de Oração. Em primeiro lugar, durante muito tempo a RCC não foi entendida por um número considerado de pessoas dentro da Igreja. Não que essa pessoas fossem ruins ou coisa parecida, mas isso porque "inicialmente a RCC era entendida lato sensu como uma espiritualidade"¹ e não como um Movimento, com história, bibliografia, lideranças, cronograma, estatuto, sede, plano de ação, etc. E com isso muito da espiritualidade carismática foi perdida, isso para que houvesse uma adaptação dos membros do movimento, ao desejo de alguns padres, bispos, cardeais, membros de outros movimentos eclesiais e pastorais.

Segundo, acontece que muitas pessoas estão na RCC há muitos anos, e muitos ainda não conseguiram mergulhar na dimensão maior dos carismas. Há irmãos, de muitos anos de serviço ao movimento, que ainda querem viver se "arrepiando", e se no grupo de oração não acontece nada de fantástico aos seus olhos (o erro de São Tomé!) o grupo não foi bom, ou até mesmo chega a citar entre os outros membros que a pessoa que estava conduzindo não estava sendo guiada por Deus. O que acontece nesse caso é o que Dr. Augusto Cury chamou de psicoadaptação. O que seria isso? Ao entramos em contato diário com determinadas coisas (roupas, quadros, jóias, etc) haveria uma normatização na leitura do cérebro. Inicialmente uma calça, quando compramos, é linda, mas depois de uns dois meses já deixa de ser tão importante; um quadro, por exemplo, ao adquirirmos ele tem uma paisagem belíssima, mas depois de passarmos tempos vendo, nós nem o mais observamos diretamente ou diariamente.

E por último, o mais perigoso das problemáticas é o ato de pensarmos que somos santos porque temos dons extraordinários. O grau de santidade de um individuo não esta ligado ao que ele pode fazer, afinal não somos nós quem realizamos, mas o Senhor. Jesus exorta-nos dizendo “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não pregamos nós em vosso nome, e não foi em vosso nome que expulsamos os demônios e fizemos muitos milagres? E, no entanto, eu lhes direi: Nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus!” (Mt 7,22s) Busquemos pois carisma supremo: O AMOR.

Isso acontece na RCC. Escuto muitos membros dizerem que a RCC não é a mesma. Eu diria diferente, nós que mudamos, nós que nos psicoadaptamos.
Mas esse processo só acontece quando não seguimos o conselho do Senhor. Jesus disse a Nicodemos "o vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3, 8). O segredo da Vida Carismática está nesse versículo, o Senhor diz que o vento (o Espírito) sopra onde quer. Os nossos Grupos de Oração precisam fazer esse exercício de se deixar guiar pelo Espírito de Jesus, e a partir dessa perspectiva a manifestação dos dons seria uma conseqüência. Segundo o próprio Jesus, que finaliza para Nicodemos, "assim acontece com aquele que nasceu do Espírito".

Os carismas próprios da RCC têm íntima ligação com o Grupo de Oração. NÃO HÁ VIDA CARISMÁTICA, COM ESPIRITUALIDADE DO MOVIMENTO DE RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO, FORA DO GRUPO DE ORAÇÃO! Dom Alberto Taveira Correia, arcebispo metropolitano de Palmas-TO, disse à RCC de Palmas, reunida na Festa das Tendas 2007, em sua homilia, que o apostolado da Renovação Carismática é "ser para a Igreja um instrumento para se espalhar esta realidade do Pentecostes. Para ajudarem as pessoas a pedirem o Dom do Espírito Santo, a acolherem o dom do Espírito Santo e os presentes, os Carismas, os Dons que nosso Senhor concede”.

Se nos nossos Grupos de Oração não há manisfestação dos carismas, podemos concluir que não estamos assumindo nosso apostolado corretamente. Infelizmente já é realidade, muitos dos nossos grupos viraram grupos de reza, não que isso seja ruim, mas é que nosso discipulado dentro da Igreja de Cristo é outro.

Existem outros problemas. Um deles é o mau uso do dom de línguas: ele se transformou em algumas realidades numa “válvula de escape”, em alguns grupos não há mais nem se quer oração de louvor (em português), e isso pode levar o movimento a uma visão centrista do dom de línguas, sendo que já acontece em muitas realidades. Muitos servos acreditam que o batismo no Espírito está diretamente ligado ao fato de orarmos em línguas, o que não é verdade; “O vento sopra onde quer” e como Ele quer. Não estou afirmando com isso que não se deva orar em línguas, não é isso! Mas que deve-se buscar também a abertura aos outros dons.

Outra situação é a má formação de como usar os carismas. Quando se termina uma oração deve-se abrir imediatamente ao silêncio e a escuta, pois Deus pode falar à assembléia, por isso a importância da escuta. O primeiro carisma a se manifestar é a profecia, que pode ser em português (no caso do Brasil) e em línguas (cantada ou falada). Só depois que se deve abrir a partilha das outras moções como palavras de ciência, visualizações, exortações, etc. Então, deve-se haver abertura constante aos dons do Espírito, isso de forma organizada, como exorta São Paulo: "mas faça-se tudo com dignidade e ordem". (1Cor 14,40)

Aos coordenadores de G.O. é desejável que busquem por excelência o dom do pastoreio, que “percam” tempo com seus coordenados, procurando consolidar seu ministério de liderança na partilha, na oração em comum e na fração do pão - "Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, na reunião em comum, na fração do pão e nas orações". (At 2,42). Buscando esse carisma, os outros dons se manifestam automaticamente, revelando a vontade divina a cerca do rebanho que o Senhor outorgou ao pastor.

A vida carismática consiste no exercício dos carismas em sua plenitude, sem Espírito de divisão ou vangloria. Devem ser usados na edificação da Igreja de Cristo, para que todos os povos conheçam a Verdade e que se voltem inteiramente para o Senhor. São Paulo confirma isso em sua carta aos Coríntios, dizendo àquela comunidade que "uma vez que aspirais aos dons espirituais, procurai tê-los em abundância para edificação da Igreja". (1Cor 14,12)

Portanto, essa realidade de Pentecostes deve ser diária e deve convergir para o carisma maior que é o AMOR (Caridade). O exercício dos dons carismático deve nos levar a uma santificação pessoal e comunitária, onde todo o Corpo de Cristo possa crescer em unidade. Que sejamos atentos no uso desses, afinal Deus nos cobrará a forma que usamos. Que a RCC seja um instrumento nas mãos de nosso Senhor para um grande derramamento dos dons espirituais.

Murillo Barros de Carvalho
Coordenador Estadual do Ministério Universidades Renovadas – RCC/TO


Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Pe. Jõao Carlos. Existem razões para apoias a RCC?

BÍBLIA SAGRADA. Editora Ave-Maria. São Paulo, 2004.

GABARRÓN, José Cervantes. As Cartas de Pedro. São Paulo: Paulinas, 2003.

TERRA, D. João Evangelista Martins, SJ. Os carismas em São Paulo. Edições Loyola. São Paulo, Brasil, 1995.






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